domingo, 22 de dezembro de 2013

Amor à Vida: Maçãs Saudáveis em Cesto Podre

Amor à Vida é certamente uma novela de qualidade bastante baixa. Não só pelo conteúdo textual fornecido por Walcyr Carrasco, autor já conhecido pelo seus excessos de clichês e pelo texto que beira o teatrinho de colégio, mas também pela inflação de temas que perpetuam a trama da novela das 9: uma saturação de assuntos polêmicos que compromete o desenvolvimento do folhetim. Isso sem contar com a fraqueza dos protagonistas, as situações pouco críveis elaboradas por Walcyr, personagens que mudam de personalidade abrupta e injustificadamente, a recorrência irritante e preconceituosa a estereótipos sociais (a gordinha virgem, o evangélico certinho, etc.), entre outros problemas graves que permeiam a produção desde o seu início.

No entanto, certos avanços devem ser expostos, por uma questão de justiça. Além da ótima direção (apesar de algumas derrapadas), uma inovação positiva é vista em Amor à Vida: o progressismo moral. O casal Patrícia e Michel, embora enfadonho e pouco complexo do ponto de vista cênico, traz à tona um vocabulário aberto e sem muitos pudores. Em uma época em que o sexo é visto, quase sempre, com extrema censura, é importante que haja personagens que ao menos tentem dar à teledramaturgia brasileira um grau de liberdade que a televisão estrangeira, por exemplo, já conhece há muito tempo. A partir disso, é possível mostrar a vida sexual (algo que, como trabalhar ou respirar, faz parte da existência humana) com muito mais serenidade.

O progressismo moral também está presente nas relações homoafetivas que se desenvolveram na novela. Niko, personagem de Thiago Fragoso, curiosamente se transformou em uma espécie de protagonista pelo qual todos torcem (Niko tem mais força e centralidade neste momento que a mocinha da história, Paloma). Um final feliz entre Niko e Félix é o mais desejado pelo grande público, prova de que a homossexualidade, aqui, é vista pelo telespectador já com bastante naturalidade. Eron, o gay que virou hétero na metade do folhetim, é, em contrapartida, odiado e rejeitado pela maioria. Acertadamente, Walcyr desenhou uma história bastante perspicaz, em que valores como fidelidade e amor à família mostram-se muito mais importantes do que a configuração de um relacionamento. Neste sentido, não importa se Niko é gay ou hétero, mas quais são, em última instância, os seus valores. Niko é um homem amoroso, fiel e com um forte instinto familiar. Ao ser trocado por uma mulher, o sofrimento de Niko ganhou a empatia popular. Excelente estratégia.

Márcia, personagem de Elizabeth Savalla, é outra que entra nessa lógica. Ex-chacrete com orgulho, a personagem assume sem muito pudor um passado que passa longe de um moralismo conservador. Sincera e com um coração enorme, a vendedora de hot dog diverte e não se apega a um recato desagradável. Mais uma vez, os valores realmente importantes (senso de justiça, solidariedade, etc.) se sobrepõem a certos paradigmas hipócritas. Ademais, as dobradinhas de Savalla com Tatá Werneck, Luís Mello e Mateus Solano foram acertos notáveis.

Assim, ainda que Amor à Vida esteja longe de ser considerada uma boa novela, é preciso reconhecer os seus acertos, mesmo que eles se diluam diante de tantos absurdos que perpassam o folhetim. A nós, cabe torcer por uma reta final minimamente melhor do que Walcyr fez até aqui. Enfoques nos núcleos de Márcia/Valdirene/Palhaço e Félix/Niko/Eron/Amarylis seriam bem-vindos. Em um mar bravio e desordenado, tais histórias parecem desenhar arrebentações mais promissoras.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Rapidinha: Eles merecem elogios

Alexandre e Outras Histórias, especial de fim de ano da Globo, encantou. Adaptação da obra de Graciliano Ramos, o resultado final foi esplêndido: da direção impecável de Luiz Fernando Carvalho à atuação inesquecível de Ney Latorraca, a produção foi, até aqui, um dos grandes momentos do período natalino. O texto, nem preciso dizer, também foi um ponto alto.


Denise Fraga, atriz acostumada a papeis cômicos, arrasou na pele de Aurora, prefeita que oscilava constantemente entre a comédia e o drama, em A Mulher do Prefeito. Em tons mais sérios, Fraga apenas reiterou o seu talento. Atriz completa, suas aventuras na série ajudaram a relembrar o seu grande potencial para cenas mais pesadas, coisa que ela já tinha demonstrado em Queridos Amigos. Denise, sem dúvida, foi o grande destaque da produção.


Amor e Sexo, programa da Rede Globo, chegou ao seu final de temporada como uma das melhores atrações da grade da Globo. Ousado, inovador e instigante, o programa comandado pela excelente Fernanda Lima se consolidou em qualidade e, consequentemente, também atraiu um público maior. A torcida é por mais uma temporada.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Joia Rara acerta na direção, mas derrapa em dramaturgia

Joia Rara estreou com a expectativa de repetir o sucesso de Cordel Encantado, produção que encantou público e crítica há dois anos. Na equipe, as mesmas autoras, a mesma direção e algumas figurinhas repetidas do elenco da novela anterior. 

A direção é realmente um acerto. Amora Mautner, mais uma vez, prova que tem bom gosto e extrema atenção à qualidade de seus trabalhos. Algo que não ressoa apenas na belíssima fotografia e no inequívoco naturalismo com o qual conduz seus atores, mas também em mimos minuciosos como a imbatível trilha sonora (certamente a melhor do ano) e nos detalhes mais específicos da direção de arte. 

Os atores, é verdade, estão corretos. Bianca Bin, apesar de não ter lá tantos recursos dramáticos a ponto de carregar uma novela nas costas, faz o seu trabalho corretamente, não tendo culpa se a personagem, seguindo a tradição das mocinhas insípidas das novelas das seis, não tem muito carisma ou empatia. Bruno Gagliasso, ator já tarimbado apesar da pouca idade, também se vê preso em um papel menor do que suas potencialidades. Nesse contexto, Ana Cecília Costa, José de Abreu e Nathália Dill acabam roubando a cena tendo em vista a fraqueza dos protagonistas.

A dinâmica do elenco acaba expondo a grande ferida da novela: a trama principal é enfadonha, tem grande tendência a descambar para o texto piegas e é pouco verossímil mesmo para os padrões do gênero fantasia. Apesar de todo o talento de Mel Maia, fica difícil não se irritar com a extrema maturidade de uma enviada divina que sequer chegou à pré-adolescência. O casal protagonista, que é totalmente dependente da história que envolve a garota, perde-se e some em meio a um mar de conflitos sem muitos chamativos. 

Nas tramas paralelas, a coisa melhora um pouco, mas não o suficiente. Os eixos comandados por Ana Cecília Costa, Thiago Lacerda, Rafael Cardoso (apesar de seu personagem, tomando o caminho mais batido, ser bem menos interessante do que estava previsto na sinopse), José de Abreu e Nathália Dill são, sem dúvida, os mais interessantes. Outras histórias, porém, esbarram em reiteradas recorrências a clichês dramatúrgicos: da mocinha aterrorizada pela cruel governanta ao cabaré cheio de estereótipos pouco complexos.

Assim, Joia Rara sofre do mesmo problema de Cordel Encantado: Apesar da direção inovadora, Duca Rachid e Thelma Guedes não conseguem acompanhar o mesmo ritmo de originalidade e recorrem a um excesso de reiterações e clichês. Se, em Cordel, a inovação da sinopse conseguiu sustentar a dramaturgia circular e pouco elaborada que permeou a parte final do folhetim, em Joia Rara, pouco se salva na história a fim de dar conteúdo à bela moldura que o trabalho técnico da novela proporciona. 

sábado, 14 de dezembro de 2013

Prêmio Leila Diniz 2013

O blog volta à ativa com os indicados à terceira edição do Prêmio Leila Diniz. Decisão em Fevereiro:

Atuação em Série Nacional 

Bianca Comparato (A Menina Sem Qualidades)
Denise Fraga (A Mulher do Prefeito)
Marília Pêra (Pé Na Cova)
João Miguel (O Canto da Sereia)
Rodrigo Pandolfo (A Menina Sem Qualidades)


Série Nacional 

A Menina Sem Qualidades (Felipe Hirsch)
A Mulher do Prefeito (Bernardo Guilherme e Marcelo Gonçalves)
Pé Na Cova (Miguel Falabella)
O Canto da Sereia (George Moura)
Sessão de Terapia (Selton Mello)


Trilha Sonora

A Menina Sem Qualidades (Felipe Hirsch)
Joia Rara (Amora Mautner)
Pé na Cova (Cininha de Paula)
Sangue Bom (Dennis Carvalho)
Saramandaia (Denise Saraceni e Fabrício Mamberti)


Fotografia

A Menina Sem Qualidades (Inti Briones)
Amor à Vida (Sérgio Marini)
Joia Rara (Fred Rangel)
Flor do Caribe (Roberto Soares do Nascimento)
Saramandaia (Roberto Amadeo)


Figurino

Joia Rara (Marie Salles)
O Canto da Sereia (Cao Albuquerque e Natália Duran)
Pé Na Cova (Sônia Soares)
Sangue Bom (Helena Gastal)
Saramandaia (Gogoia Sampaio)


Direção de Arte

Flor do Caribe (Laura Tausz)
Joia Rara (Ana Maria Magalhães)
O Canto da Sereia (Moa Batsow)
Pé na Cova (Márcia Rossi)
Saramandaia (Guga Feijó)


Abertura

Além do Horizonte
Malhação - 20ª Temporada
Pé Na Cova
Pecado Mortal
Saramandaia


Direção

Denise Saraceni e Fabrício Mamberti (Saramandaia)
Felipe Hirsch (A Menina Sem Qualidades)
Jayme Monjardim (Flor do Caribe)
Ricardo Waddington e Amora Mautner (Joia Rara)
Wolf Maya e Mauro Mendonça Filho (Amor à Vida)


Autor

Duca Rachid e Thelma Guedes (Joia Rara)
George Moura (O Canto da Sereia)
Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari (Sangue Bom)
Miguel Falabella e Artur Xexéo (Pé Na Cova)
Ricardo Linhares (Saramandaia)


Ator Coadjuvante

Adriano Garib (Salve Jorge)
Gabriel Braga Nunes (Saramandaia)
Marcos Palmeira (Saramandaia)
Thiago Fragoso (Amor à Vida)
Thiago Lacerda (Joia Rara)


Atriz Coadjuvante

Ana Cecília Costa (Joia Rara)
Bruna Linzmeyer (Amor à Vida)
Elizabeth Savalla (Amor à Vida)
Marisa Orth (Sangue Bom)
Tatá Werneck (Amor à Vida)


Ator

Antonio Fagundes (Amor à Vida)
José de Abreu (Joia Rara)
José Mayer (Saramandaia)
Mateus Solano (Amor à Vida)
Ney Latorraca (Alexandre e Outros Herois)


Atriz

Ângela Leal (Dona Xepa)
Giovanna Antonelli (Salve Jorge)
Giulia Gam (Sangue Bom)
Nanda Costa (Salve Jorge)
Vanessa Giácomo (Amor à Vida)


Novela

Amor à Vida (Walcyr Carrasco)
Dona Xepa (Gustavo Reiz)
Joia Rara (Duca Rachid e Thelma Guedes)
Sangue Bom (Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari)
Saramandaia (Ricardo Linhares)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aplausos: Para Saramandaia, novela do brilhante Ricardo Linhares. Além da direção correta e do elenco estupendo, a novela das onze se destaca em um elemento crucial: o texto. Linhares, autor que vai contra a linha conservadora da emissora, discute temas importantes de modo crítico e inteligente. Aborto e prostituição, por exemplo, foram questões tratadas, nos últimos capítulos, sem nenhum tipo de moralismo barato. Embora a audiência não esteja correspondendo, é bonito ver que há cabeças pensantes no corpo de autores de Rede Globo.

Para Sangue Bom, que ganhou fôlego e consistência nas últimas semanas. Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari conseguiram, finalmente, dar noção de conjunto à obra das sete, entrelaçando todas as tramas de maneira eficiente. A guinada, que vem aliada ao texto esperto, sarcástico e frequentemente questionador, fez com que a novela desse um salto significativo de qualidade. É, junto com Saramandaia, a melhor novela em exibição.



Vaias: Para Amor à Vida, que continua perdida em meio aos caprichos de um autor pouco talentoso. Texto piegas, personagens mal construídos e tramas mal desenvolvidas são só alguns ingredientes do mar de mau gosto que tomou conta do pobre horário nobre. Um horror.

Para a nova temporada de Malhação, que parece não ter entendido muito bem o conceito da novelinha. Destinada ao público adolescente, a série erra ao trazer um tema bastante careta como mote de seus dilemas. A família de propaganda de margarina que conduz o eixo central da trama, definitivamente, é pouco interessante até mesmo para um folhetim adulto. No meio dos jovens, então, tradicionalmente questionadores e descolados, a valorização dos laços familiares torna-se, provavelmente, estafante. Mais do que isso, a família encabeçada por Tuca Andrada e Isabela Garcia, na medida em que é apresentada sob um ponto de vista bem tradicional e idealizado, não apresenta traços muito instigantes. Uma chatice repleta de clichês.

sábado, 6 de julho de 2013

Aplausos: Para três casais de Saramandaia: Débora Bloch e Gabriel Braga Nunes, Lília Cabral e José Mayer, Chandelly Braz e Sérgio Guizé. A novela, uma perfeição de dramaturgia, também se destaca pela escalação. O bom texto aliado à química existente entre os atores faz com que o público torça pelos casos de amor presentes no enredo.

Para o Altas Horas, programa comandado por Serginho Groismann. O programa é antigo, é verdade, mas o blog não pode deixar de mencionar a riqueza cultural que Serginho coloca em seu palco. De duplas sertanejas a companhias famosas de balé, o programa abraça a arte sem o menor preconceito. O clima divertido, aconchegante e reflexivo da atração também empolga. Nota dez.

Para o Esquenta, outro programa de auditório revolucionário. Regina Casé traz, aos domingos, a cultura popular da maneira mais escancarada. Funk, samba, pagode, axé e outros ritmos que ditam o tom da periferia povoam o riquíssimo contexto que Regina cria. A atração, vale dizer, também é questionadora: Discute questões do ponto de vista da favela: a violência policial, a diversidade, a desigualdade. E, para isso, Regina não se furta de recorrer a especialistas tradicionalmente presos ao universo acadêmico. Encantador.





Vaias: Para Paolla Oliveira, que deu uma aula de amadorismo na cena em que Paloma, sua personagem, tira satisfações com Bruno (Malvino Salvador). A atriz, uma das mais bem-posicionadas da emissora, não conseguiu passar a menor emoção. Entre berros e puxões no próprio cabelo, Paolla recorreu a recursos que até uma atriz de teatro de escola conhece. Péssima.

Para a trama envolvendo Filipinho, personagem de Josafá Filho em Sangue Bom. Ainda que o mote da trama seja bom, ou seja, as celebridades que criam uma vida de mentiras para disfarçar a própria homossexualidade, parece-me que o centro da questão, a diversidade, é quase sempre jogada de maneira boba e pouco refletida. No fim das contas, a novela deixa parecer que é muito natural que uma pessoa sinta vergonha de sua orientação sexual. Bem sabemos, na verdade, que isso é uma grande bobagem e vem perdendo força nos tempos atuais. Em outras palavras, mesmo que o constrangimento da homossexualidade declarada em público no mundo preconceituoso da fama seja óbvio, falta alguém, no universo de personagens, para apontar que não há nada de vergonhoso em ser gay, lésbica ou o que quer que seja. O texto fica bobo, raso e destoa do bom trabalho que a dupla de autores vem fazendo.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

De Cabo a Rabo

Os quatro horários das grandes novelas da Rede Globo estão ocupados. O blog, então, resolveu traçar um panorama das principais atrações da teledramaturgia da emissora carioca:

- Flor do Caribe: Depois da ousada Lado a Lado, a novela de Walther Negrão decidiu resgatar o caminho do folhetim tradicional. Uma mocinha ingênua, um heroi destemido, um vilão detestável, um conjunto maniqueísta povoado pelas belas paisagens do Rio Grande do Norte. No IBOPE, a estratégia funcionou: Flor do Caribe recuperou a audiência do horário e é, atualmente, a única novela global realmente bem-sucedida nesse quesito. Isso porque, vale dizer, o folhetim é, de modo geral, quase perfeito: bem-conduzido, bem-escrito, bem-escalado e bem-dirigido. Apostar em uma tradicional e redondinha trama água-com-açúcar parece ter sido uma ótima escolha.

- Sangue Bom: A novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari estreou com expectativas. Ela, autora portuguesa respeitada por um estilo elegante; ele, dramaturgo promissor da nova safra. A trama, no entanto, peca como conjunto. Embora haja aspectos formidáveis (texto afiado, tramas paralelas encantadoras, etc.), falta à novela uma sinopse mais forte, uma trama que sustente e dê liga a todas as outras. Sem isso, Sangue Bom parece esquizofrênica. E não só por isso: apesar de Dennis Carvalho acertar em cenas de drama, peca por um excesso de caricatura nas cenas de humor. De todo modo, ainda que as cenas de humor sejam, quase sempre, mal-dirigidas, personagens cômicos paralelos fazem parte dos melhores momentos que a obra proporciona: Bárbara Ellen (Giulia Gam), Tina (Ingrid Guimarães) e Damaris (Marisa Orth) são personagens magníficas. No viés dramático, temos outros enredos que valem a pena: Irene (Débora Evelyn) e Verônica (Letícia Sabatella) tiveram seus instantes grandiosos. Mas a falta de uma trama central realmente interessante não colabora. Não há a menor vontade de acompanhar a novela no dia seguinte. E os protagonistas, a propósito, são fracos e interpretados por atores sem muito carisma. Sophie Charlotte e Marco Pigossi, definitivamente, precisam de um pouco de sal. A dubiedade de Amora, é claro, colabora para a falta de empatia. Nesse cenário, destacam-se Malu, mais um grande trabalho de uma atriz muito criticada no passado, Fernanda Vasconcellos, e Giane, que confirma Isabelle Drummond como a promessa mais certa de sua geração.

- Amor à Vida: Amor à Vida é fraca. E muito por causa de seus diálogos: nunca se viu um texto tão vergonhoso no horário nobre. Além disso, a própria estrutura dramatúrgica da novela é recheada de escaletas fáceis: esquetes de humor dignas de Zorra Total. É o caso das tramas de Valdirene (Tatá Werneck) e Perséfone (Fabiana Karla). O pilar dramático é um pouco mais forte: conta com o dúbio César (Antonio Fagundes), de longe o personagem mais interessante. No entanto, os demais personagens parecem rendidos ao velho maniqueísmo meio místico, ingênuo e quase imbecil de Walcyr Carrasco. Paloma, protagonista interpretada por Paolla Oliveira, é ingênua em excesso. Félix, o tão aclamado vilão de Mateus Solano, é uma caricatura. Aliás, muito se esperava desse personagem. O autor, entretanto, errou em seu conceito. E o ator, é preciso dizer, foi junto. Solano optou pela caricatura em uma personagem que exigia muitas nuances. Derrapou. A Solano, recomendo ver o excelente trabalho de Débora Falabella em Avenida Brasil, a mocinha vingativa que só precisou se render aos tons mais fortes no capítulo 100. No mais, a direção aposta em inovação e quase sempre acerta. 

- Saramandaia: Sem dúvida alguma, a melhor novela no ar. Protagonizada por excelentes atores, que vão da magnífica Lília Cabral ao estreante Sérgio Guizé, o folhetim é muito bem escalado. A dramaturgia de Ricardo Linhares encanta: flerta com o realismo fantástico mais tradicional (já que passa por novelas como Porto do Milagres e por escritores tradicionais do gênero como García Marquez), mas também aposta em uma linguagem circense e colorida, algo bem mais próximo da fantasia do que do soturno clima de obras como Incidente em Antares. E funciona. A direção é tradicional, mas nem por isso ruim. Núcleos inovadores, como o de Ricardo Waddignton e o de Mauro Mendonça Filho, são, é claro, fundamentais. Mas nem são (e nem devem ser) únicos. Direções com fotografia, planos e cortes mais tradicionais são essenciais e marcam as diferenças de estilo. Seria muito chato se víssemos o mundo tão somente com o asséptico filtro azul de Amor à Vida, não é verdade? A trilha sonora é outro ponto fortíssimo. Até aqui, o folhetim está perfeito. Algo muito superior ao que vimos em Gabriela.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Aplausos: Para Giulia Gam e Fafy Siqueira, dupla que vem rendendo bons momentos ao núcleo cômico de Sangue Bom. A entrada de Fafy, sem dúvida, deu frescor ao núcleo encabeçado pela vilã.

Também em Sangue Bom, aplausos para Deborah Evelyn, que, mais uma vez, defende o seu papel com maestria. Interpretando uma mulher com uma difícil história de vida, Evelyn consegue passar, com  plenitude, toda a dor reprimida que a personagem sublinha.

Para Elizabeth Savalla e Tatá Werneck, duas atrizes que se destacam na nem sempre interessante Amor à Vida. A química funcionou e rende bons momentos. Só é preciso ter cuidado, é claro, para não transformar a trama das vigaristas em uma esquete repetitiva de humor barato. Acompanhemos.


Vaias: Para Félix, o vilão vivido por Mateus Solano, em Amor à Vida. Se o personagem prometia  bastante inicialmente, os últimos capítulos serviram para deixar o antagonista da novela extremamente irritante. Muito por causa do texto limitado e cheio de bordões do autor, o que não é nenhuma surpresa. Mas muito também, vale dizer, por um excesso na composição de Solano, que começou muito natural e foi ficando forçado ao longo do tempo. E não é por causa do perfil do personagem, é preciso mencionar. Basta comparar, por exemplo, o tom de Mateus com a ótima interpretação de Edwin Luisi, o Tio Lili de Sangue Bom. Na novela das sete, Edwin, ator tarimbado, embora também dê vida a um homossexual típico, consegue escapar muito bem da mera caricatura.

Para Amor à Vida, que definitivamente tem sérios problemas de autoria. Diálogos fáceis, excessivamente didáticos e piegas quebram completamente a tentativa da direção em dar certo ar de maturidade à novela. Uma pena.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Jogo Rápido: Com boa premissa, Amor à Vida esbarra em texto pobre e em direção com crise de identidade

Amor à Vida surgiu no horário nobre como promessa de bons ventos. Uma direção aparentemente elegante e o uso de uma dramaturgia repleta de tramas ousadas (temas LGBT explorados de forma mais livre, a discussão em torno do uso e do tráfico de drogas, etc.) pareciam significar que Walcyr Carrasco, consagrado por novelas de audiência alta e qualidade duvidosa, estava prestes a desenvolver uma trama madura, inteligente, sem maniqueísmos baratos e chavões piegas batidos. Se o primeiro capítulo confirmou, de certo modo, tais impressões, o desenvolvimento da novela, em contrapartida, pôs tudo a perder. Em um plano menos importante, a direção vem sofrendo com uma crise de identidade. Em alguns momentos, cortes bem-executados e uma fotografia elegante, elementos típicos de uma linguagem que flerta com as séries e com o cinema. Em outros, porém, câmeras lentas cafonas e trilhas incidentais mal-executadas. Mas o mais grave, sem dúvida, encontra-se no texto pouco elaborado, piegas e claramente orientado pela visão de mundo extremamente limitada do autor, Walcyr Carrasco. Recados místicos rasos e superficiais pululam em diálogos fáceis, vazios e descontextualizados. Félix, o vilão promissor, perde-se em uma vilania caricata, pouco fundamentada, recheada de tiradas que, se são um excelente recurso em situações variadas, tornam-se forçadas quando usadas a esmo em todos os tipos de circunstância. Lições de moral surgem aos montes, quase sempre sem contraponto, sem discussão, de forma extremamente irrefletida. Assim, assuntos sérios são "discutidos" de maneira irracional. A novela, que pretende se inserir em questões contemporâneas, caiu, ao que parece, nas mãos de um dramaturgo pouco capaz. Não mencionei, é claro, o excesso de didatismo que irrita e é inexplicável em um folhetim de horário nobre. Vale mencionar, também, a falta de traquejo do casal protagonista, vivido por Malvino Salvador e Paola Oliveira.

Mas é claro que falta de qualidade não implica em fracasso no Ibope. Inúmeros são os casos de novelas ruins que se consagram em audiência (vide Fina Estampa). E, se a novela de Walcyr Carrasco não promete qualitativamente, Amor à Vida tem elementos o suficiente para emplacar em números e repercussão.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Aplausos: Para A Menina Sem Qualidades, seriado muito bem-dirigido por Felipe Hirsch. Se a protagonista, vivida magistralmente pela ótima Bianca Comparato, não tem qualidades e vai se moldando enquanto passa por novas e transformadoras experiências, o mesmo não se pode dizer da magnífica produção exibida pela MTV Brasil. Qualidades não faltam ao seriado: direção impecável, elenco muito bem-conduzido, um texto tão sensível e reflexivo quanto o da obra original. Cabe fazer menção importante a Rodrigo Pandolfo, um dos melhores atores revelados nos últimos anos.

Para Mateus Solano, o grande responsável pela carcaterização do vilão Félix, em Amor à Vida. Com uma composição que fica no limite entre caricatural e o crível, Mateus conseguiu dar corpo e graça ao texto nem sempre muito inspirado (e às vezes bobo) de Walcyr Carrasco. Na sua boca, as tiradas de Félix ganham um aspecto de acidez rasgada típica de personalidades atormentadas e perversas. Félix tem tudo, sem dúvida, para entrar para a galeria dos grandes vilões da dramaturgia. 

Vaias: Para o discurso sem propósito, superficial e descontextualizado de César, personagem de Antonio Fagundes, sobre o aborto. O médico respeitado, que se colocou como grande protetor da moralidade, desconsiderou, entre outras coisas, aspectos importantes como a desigualdade social, a inserção do tema em questões de saúde pública e a falta de informação. O aborto, indubitavelmente, é algo que deve ser discutido em um plano muito mais complexo do que o mero maniqueísmo que existe na dualidade "sou a favor ou sou contra". Não se sabe ainda se o tema ganhará novas repercussões dentro da trama, mas se ficar apenas na cena referida, nota 0 para o autor.

Para a direção de Amor à Vida, que se empenha frequentemente em sequências de gosto duvidoso. Dois exemplos disso envolvem a personagem Paloma, interpretada pela insípida Paola Oliveira. Numa delas, câmeras lentas sucessivas pairavam sobre o rosto e o cabelo da atriz. Por um momento, pareceu que a novela mais assistida do país tinha se convertido em uma propaganda de tintura de cabelo. Em outra cena, Paulinha, papel de Klara Castanho, corre, também em câmera lenta, para os braços da protagonista.  Cafonice define. Isso sem citar as péssimas escolhas na trilha sonora, que vai de Wanessa Camargo a Daniel. Haja paciência.

Para as tramas paralelas de Amor à Vida, quase todas vazias, rasas e superficiais. O que dizer da história da gordinha virgem em busca da primeira relação sexual? No que já foi mostrado, tal trama, que até poderia ser discutida de um modo mais interessante, não sairá muito da concepção machista e pouco relevante da mulher desprovida de beleza que procura desvairadamente por um homem que "faça o serviço" (palavras da novela). Um horror. Isso sem contar com um discurso anacrônico e atrasado pró-sexo que desconsidera questões como a assexualidade. Em uma sociedade pluralista e em uma novela que, pelo menos em tese, pretende ser antenada com a realidade, recursos desse tipo soam como meramente apelativos.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Novelas: Balanço de Início de Ano


Nos últimos meses, decidi me dar férias do blog. Nesse período, muitas novelas passaram e estrearam, de modo que fiquei um pouco atrasada em relação aos principais comentários. Sendo assim, vamos por partes. Primeiro, vou tecer breves comentários sobre os folhetins que saíram do ar. Depois, darei uma pincelada sobre as promessas do gênero para 2013.



AS BOAS VINDAS

Sangue Bom: A novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari estreou com certa expectativa.  Com a missão de levantar o IBOPE do horário, Sangue Bom tem, sem dúvida, bom texto, bom elenco, mas precisa de acertos severos. A falta de um eixo principal, algo que justifique a presença da novela do ar, o tão famoso argumento, é a principal falta. A direção também compromete, um pouco perdida entre cortes mal-feitos, uma trilha sonora razoável (que oscila, por exemplo, entre o péssimo Sambô e a ótima Adriana Calcanhotto) e atores claramente mal-orientados (principalmente os estreantes e outros não muito talentosos como Rômulo Arantes Neto). De positivo, destaco o ótimo roteiro de Maria Adelaide e Vincent. Embora a novela não tenha, como eu disse, uma sinopse muito forte, ótimas tiradas, críticas muito atuais e piadas bem-colocadas fazem com que o folhetim esbanje um texto delicioso. Um constante diálogo com os tempos atuais (que faltou claramente na péssima Guerra dos Sexos) e também com outras novelas (Além da excelente presença de um recorrente intertexto) trazem vigor e simpatia à trama das sete. Também é visível que alguns personagens se destacam: Damaris (Marisa Orth), Bárbara Ellen (Giulia Gamm) e a Mulher Mangaba (Ellen Roche) representam caricaturas adoráveis. Representam caricaturas da espécie mais admirável: caricaturas que representam bem-humoradas críticas a tipos extremamente atuais e completamente inseridas na discussão da novela, a fama versus o conteúdo. Verônica (Letícia Sabatella) e Rosemere (Malu Mader) também dizem textos inspirados e claramente têm o dedo de Maria Adelaide Amaral. Vale esperar por acertos.

Amor à Vida: A novela das nove estreou bem-escrita, luxuosa e muito bem conduzida. Apesar de alguns momentos piegas já típicos dos textos de Walcyr Carrasco, Amor à Vida tem uma excelente sinopse, personagens extremamente cativantes, um roteiro quase impecável e uma direção espetacular. Com isso, o novo folhetim do horário nobre tem tudo para emplacar. Félix, o vilão gay de Mateus Solano, já caiu nas graças do público, parte por conta da excelente composição de Mateus Solano, parte por conta da afiada e esperta dramaturgia do autor, que parece se redimir quando escreve para personagens menos maquineístas. Susana Vieira, Elizabeth Savalla e Tatá Werneck também prometem ótimos momentos. A propósito, Valdirene, papel da excelente Werneck, estourou em apenas dois capítulos. A direção de Wolf Maya e Mauro Mendonça Filho também é irrepreensível. O jogo de câmeras, a trilha incidental e a fotografia são excepcionais e comprovam a extrema competência de Mauro Mendonça, que já demonstrava bastante talento em Gabriela e O Astro. Amor à Vida, sem dúvida, é a grande candidata à novela do ano. No entanto, alguns deméritos não podem ser negligenciados. A música que embala a abertura, uma regravação equivocada do cantor Daniel, é irritante e nada tem a ver com o clima geral da novela. A escalação de Malvino Salvador também é um ponto frágil. O ator, péssimo e extremamente canastrão, passou vergonha nas cenas em que teve que demonstrar mais dramaticidade. Paolla Oliveira está mais madura e segura, mas parece carecer de um problema importante para uma atriz de TV: a falta de carisma. Klara Castanho, a criança que se comporta como adulta, também dá sinais de que sofre do mesmo problema. Além disso, falta um aspecto pueril à menina, que transborda uma esperteza antipática. A conferir.

Dona Xepa: A história já é boa e o texto de adaptação de Gustavo Reiz é ágil, ácido, sarcástico, funciona muito bem. As escalações são acertadas e a direção não compromete. Aliás, a trilha sonora é melhor que a trilha de qualquer novela da Globo (o que não quer dizer muita coisa na conjuntura atual). Parece que depois das discutíveis Máscaras e Balacobaco, a Record acertou o tom. O que pega realmente é o excesso de repetição dos mesmos nomes. Luiza Tomé e Giuseppe Oristanio, por exemplo, são cansativos e deviam ganhar um descanso. A emissora poderia variar mais. De qualquer forma, a novela está longe de ser ruim. Destaco Taís Fersoza, que promete bastante como Rosália.




O ADEUS

Guerra dos Sexos: O remake de Sílvio de Abreu não emplacou e não agradou a crítica. Embora o conteúdo da novela fosse extremamente atual, o autor não soube atualizar o texto de forma inteligente. Tudo ficou extremamente anacrônico e inadequado, seja por conta das situações ou do humor ultrapassado e vazio.. A guerra dos sexos do século XXI tinha tudo para ser bem mais interessante: Vânia poderia uma feminista ferrenha, por exemplo, uma espécie de militante engajada puxada para o lado cômico. Ou ela poderia ser sensual, fugir dos padrões de "dama" e mostrar como a mulher que sai de um comportamento mais pueril sofre preconceito sexista (sem deixar de lado a comédia, é claro). Uma mulher independente nos moldes dos anos 80 fica bastante comum, não restando nada de muito interessante ou sedutor na personagem. Até Fatinha, a divertida personagem de Malhação, conseguiu mostrar a guerra dos sexos atual com mais efetividade do que as personagens desse remake. Assim, os personagens mantiveram-se imersos em um universo bastante deslocado: o irmão que proíbe a irmã de namorar em plena São Paulo de 2013, a viúva que sofre restrição à sua vontade de assumir a empresa do marido, entre outras abordagens pouco convincentes. O próprio final parece ter sido um erro de tempo. Sílvio, ao apostar nos finais que ele gostaria de ter escrito em 83 e não conseguiu durante a ditadura, parece ter se esquecido que, o que era inovador e interessante naquela época, já não tem nenhum impacto hoje em dia. Uma vilãzinha que se dá mal, só para citar, é só mais uma vilãzinha que se dá mal. O resultado: Tudo ficou muito bobo, muito trivial, caricato até mesmo para uma novela das 19 horas, que tem como marca principal a comicidade. Em outras palavras, Guerra dos Sexos virou um grande quadro clichê de comportamento do Fantástico. 

Avaliação da novela: RUIM


Salve Jorge: Sem dúvida, a novela de Glória Perez viu-se um pouco prejudicada pelo sucesso da antecessora. Em termos gerais, o folhetim de Glória Perez, embora estivesse recheado de situações absurdas e inexplicáveis, teve os seus pontos positivos: mais uma vez, a autora tem o mérito de mostrar um tema delicado e tocar em feridas grandes de nossa sociedade. Além do tráfico de pessoas, mostrou, de um jeito bastante peculiar ao universo da autora, a vida na favela e a cultura popular. Outras coisas também chamaram a minha atenção: o fato da história ser protagonizada por uma moça favelada, mestiça, prostituída e completamente fora dos padrões das mocinhas da novela das oito; a marcação da diferença entre a prostituição forçada, que é recriminável, e a prostituição voluntária, que de forma alguma deveria ser recriminável; a naturalização da transgeneralidade de Jô, personagem de Thammy Miranda. Mas o que mais chamou a atenção geral, sem dúvida, coisa muito inflamada pelo fenômeno quase sempre irrefletido das redes sociais, foi a série de furos no roteiro da novela. Foram muitos, é claro, mas não tão relevantes quanto a falta do pen drive de Nina (Débora Falabella), por exemplo, na aclamada Avenida Brasil. A direção de Marcos Schechtmann, entretanto, foi vergonhosa. Poucas vezes viu-se um núcleo de direção tão equivocado e perdido. De todo modo, o último capítulo terminou com uma pérola, lançada por Wanda, personagem de Totia Meirelles. Depois de todas as maldades feitas pela megera, a vilã soltou: “Eu aceitei Jesus”. A propósito, o quíntuplo de vilões (Lívia, Wanda, Russo, Irina e Rosângela) rendeu bons momentos. Elementos caricatos como o gato Yuri e a seringa colaboraram para o folclore em torno da quadrilha e deram um positivo aspecto de vilania de quadrinhos. Esses mesmos elementos, vale dizer, foram criticados por Maurício Stycer, comentarista do site UOL, que ultimamente parece mais interessado em tweetar aspectos mesquinhos do que construir críticas algo relevantes e voltadas para o conjunto. O que seria de Adma Guerrero sem o seu anel ou de Nazaré Tedesco sem a sua tesoura? Vale refletir.

Avaliação da novela: RAZOÁVEL


                                                                                                                               

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aplausos: Para Pé Na Cova, seriado de Miguel Falabella que vem se consagrando como uma das melhores coisas da TV aberta brasileira. Com personagens maravilhosos inseridos em um contexto alegórico e excêntrico, a produção diverte e coloca críticas muito pertinentes à atualidade: o preconceito, a desigualdade social e a educação. Falabella, porém, não cai em um excesso de didatismo. Pelo contrário, seu humor é da melhor qualidade: é acessível, mas não se rende à banalidade acrítica de programas como Zorra Total ou Pânico na TV. Além disso, usa o politicamente incorreto da forma mais inteligente: não entra em um pedantismo exagerado e não usa essa estratégia como mecanismo de deboche reacionário. A propósito, a diversidade que Falabella imprime na TV revoluciona: da lésbica masculinizada à mãe bêbada tresloucada, suas personagens fogem completamente do paradigma da propaganda de margarina. 

Para Marília Pêra, que, ao interpretar a Darlene de Pé Na Cova, está em um de seus melhores papéis na TV. Com uma personagem de tintas almodovarianas, Marília vem nos brindando, todas as quintas, com uma  interpretação inesquecível. Darlene é over, interesseira, divertida, colorida e caótica. E Marília, uma das maiores atrizes da televisão brasileira, comprou esse perfil e criou uma composição excepcional. 

Para Giovanna Antonelli, Dira Paes, Nanda Costa e Totia Meirelles, que vivem, respectivamente, Helô, Lucimar, Morena e Wanda, em Salve Jorge. Se a novela de Glória Perez passa por alguns problemas de enredo e direção, o mesmo não se pode dizer das atrizes supracitadas. Superando os percalços que o folhetim enfrenta, Giovanna, Dira, Nanda e Totia defendem seus papeis com unhas e dentes, transformando suas personagens nos grandes destaques da trama. Um salve especial para Giovanna, a implacável delegada Helô.


Vaias: Para a equipe de jornalismo do SBT,  que é recheada de um conservadorismo parcial e irritante. Enquanto Carlos Nascimento frequentemente destila o seu pedantismo cansativo em seus comentários (quem não se lembra do "nós já fomos mais inteligentes"?, Rachel Shererazade, por sua vez, mostra-se cada vez mais adepta de um fundamentalismo reacionário e inadequado. A última da moça: ela deturpou o sentido de Estado Laico para tentar defender Marco Feliciano, o deputado e pastor neopentecostal que preside, em  um contrassenso a suas posições racistas e homofóbicas, a comissão de direitos humanos da câmara. É dose.

sábado, 16 de março de 2013

A época avant-garde


Lado a Lado, sem dúvida, merece o posto de grande novela. Em plena estreia, João Ximenes Braga e Cláudia Lage deram um show de dramaturgia, construindo uma novela de época nada convencional. Do mesmo modo, o núcleo de direção soube levar o vanguardismo do texto para os cenários, figurinos, trilha sonora e fotografia. Vanguardismo, a propósito, é a palavra certa para definir esse folhetim. Travestida de século XX, a trama trouxe críticas plenamente válida para os nossos tempos. A estratégia, inteligentíssima, permitiu que os autores driblassem o rigoroso código moralista da Rede Globo, uma espécie de padrão de conduta à la cinema norte-americano da década de 70. Essa liberdade, como consequência, favoreceu a apresentação de temas geralmente negligenciados, como o preconceito em relação ao candomblé, a violência policial e os movimentos microrrevolucionários capitaneados por negros pobres (caso da capoeira). Além disso, a estratégia de apresentar problemas modernos em uma novela de época proporcionou um choque de realidade ao telespectador mais esperto: em cem anos, pouca coisa mudou. A mulher, embora tenha conquistado seu espaço no mercado de trabalho, continua em posição bastante desfavorável. Lado a Lado, em pleno século XX, conseguiu dar um panorama atual sobre o problema feminista de uma maneira muito mais eficiente do que o equivocado remake de Guerra dos Sexos. Do mesmo modo, o negro também permanece como vítima de preconceito. Marginalizado, excluído e alvo de desconfianças, o preconceito racial é algo que respinga em sua cultura: religião, artes marciais, música e todo um conjuntos de costumes que é colocado em um plano menor. Ademais, outros temas típicos do século XXI pulularam na rebuscada fotografia de Lado a Lado: a mentalidade aristocrata da sociedade brasileira, a violência e o despreparo da polícia brasileira, a situação precária dos morros e favelas. Em outras palavras, embora estejamos “lado a lado” há mais de um século, o Brasil permanece com os mesmos problemas estruturais: a desigualdade social, a discriminação racial, as mazelas de uma sociedade oligárquica e extremamente machista. A dica, dada pelos próprios autores, veio ao final do excelente último capítulo, que terminou, justamente, com a imagem do contraste do Rio atual: o Morro da Providência surgiu como contraponto à Zona Sul carioca. Uma imagem emblemática.

Com base no conceito nada convencional de novela de época, a direção, comandada por Dennis Carvalho e Vinicius Coimbra, trouxe elementos pouco compromissados com a ideia encaixotada e rigorosa de novela de época. Figurinos leves e modernos deram o tom das personagens, desde os cabelos soltos de Laura (Marjorie Estiano) às peças esvoaçantes e desprovidas de manga de Isabel (Camila Pitanga). A trilha sonora, no mesmo sentido, era composta por músicas alternativas atuais, uma seleção, vale dizer, de muitíssimo bom gosto. De Nação Zumbi a Nando Reis, o folhetim nos premiou com canções escolhidas a dedo para cada situação. Vale destacar, também, a primorosa fotografia, que teve sua idealização criada pelo renomado Walter Carvalho. Por fim, cabe destacar o excelente elenco. Patrícia Pillar, é claro, foi o grande destaque. A atriz, que parece melhorar a cada novela, compôs uma Constância completamente diferente de sua personagem mais lembrada, a vilã Flora de A Favorita (2008). Na pele da Baronesa da Boa Vista, Patrícia conseguiu passar toda a pompa e a vaidade de um ego sustentado pelos títulos e tradição de sua família. No último capítulo, a intérprete de Constância deu uma aula à parte: o embate final entre sua personagem e Assunção, papel defendido por Werner Schünemann, impactou. O elenco, porém, era fenomenal e trouxe, junto com o desempenho de Pillar, outras atuações espetaculares: Marjorie Estiano, mais uma vez, tirou o fôlego dos seus telespectadores. Chamou a atenção a cena em que sua personagem, Laura, sofre uma tentativa de estupro no gabinente de um senador. A colega de protagonismo de Marjorie, Camila Pitanga, também teve um excelente desempenho, principalmente em suas cenas com Milton Gonçalves, outro ator responsável por uma interpretação magistral. Caio Blat, por sua vez, prova a cada novela que é um dos melhores atores de sua geração. Um ator que já nasceu pronto e que interpreta com a mesma facilidade de atores experientes. Alessandra Negrini, afastada da tv há algum tempo, acertou em cheio em sua composição mais teatral. O tom de Alessandra caiu como uma luva para a sua cínica e dissimulada personagem, a cantora lírica Catarina. Com os já mencionados, somam-se outras memoráveis interpretações: Lázaro Ramos, Thiago Fragoso, Cássio Gabus Mendes, Maria Clara Gueiros, Emílio de Melo, Isabela Garcia, Zezé Barbosa, Rogéria, Sheron Menezzes, Débora Duarte, Priscila Sol, Maria Clara Gueiros, Álamo Falcó, Werner Schünemann, Marcello Melo Jr., Bia Seidl, entre outros. Duas coadjuvante merecem um destaque especial: Christiana Guinle, que arrasou na pele da invejosa Carlota, e Ana Carbatti, que deu vida à rancorosa Zenaide. As duas, excelentes em suas personagens, merecem mais atenção dos diretores. Nesse elenco maravilhosamente escalado, apenas duas exceções negativas: Klebber Toledo e Rhaisa Batista, ambos muito verdes e pouco à vontade em cena.

Mas como nem tudo é perfeito, Lado a Lado apresentou, em seu último mês, um enredo razoavelmente arrastado. Nada que comprometesse, no entanto, o conjunto. Essa “barriguinha”, aliás, foi muito bem compensada por uma dinâmica e instigante semana final.

Enfim, Lado a Lado se despediu dos telespectadores com um saldo extremamente positivo. Com a missão de ser uma novela de época, trouxe bem mais: converteu-se em uma alegoria crítica, ácida e contemporânea. O texto da ótima dupla de autores trouxe cultura sem cair na pedância chata que volta e meia enreda veteranos como Aguinaldo Silva. Além disso, João Ximenes e Cláudia, com a ajuda, é claro, do mestre Gilberto Braga, mantiveram-se coerentes. Ao largo da pressão por audiência, Lado a Lado seguiu o seu curso natural e não fez grandes mudanças de roteiro ou de direção. A qualidade prevaleceu.


Avaliação: ÓTIMA

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Aplausos: Para Lado a Lado, que trata com bastante perspicácia temas muito relevantes ainda na contemporaneidade. Entre eles, o preconceito contra as religiões de matriz africana e o uso da polícia na defesa de interesses políticos e econômicos. Ainda que seja exibida em uma emissora claramente conservadora, a trama de João Ximenes Braga e Cláudia Lage dá um show de criticidade. Destaque para a sequência em que Jurema (Zezé Barbosa), mãe de santo, é perseguida pela polícia por conta de suas atividades como mãe de santo. Um claro exemplo de discriminação religiosa e violência policial.

Para Patrícia Pillar e Camila Pitanga, que, em Lado a Lado, deram um show nas cenas em que Isabel, personagem de Camila, descobre que Elias, seu filho, foi roubado por Constância, personagem de Patrícia Pillar, quando ainda era bebê. Camila, uma das grandes atrizes de sua geração, demonstrou visceralidade e conseguiu emocionar até o mais apático telespectador. Patrícia, por sua vez, deu uma aula de recursos dramáticos, conseguindo passar, apenas com o olhar, todos os sentimentos que a personagem sublinhava.

Para a cena em que Jéssica (Carloina Dieckmann) é assassinada por Lívia Marini, a vilã interpretada por Cláudia Raia. A direção de Salve Jorge, quase sempre equivocada e de mau gosto, surpreendeu e levou uma cena primorosa ao ar. Com ótimos recursos de sonoplastia, a sequência foi impactante e extremamente convincente. Destaque também para o excepcional trabalho de fotografia, que utilizou, com esperteza, estratégias cinematográficas: a oscilação de foco, o realce de certas cores das expressões faciais das atrizes (como o verde dos olhos de Dieckmann ou o vermelho do batom de Raia), etc. Parabéns à equipe de Marcos Schechtman.



Vaias: Para a pauta do Domingo Espetacular, cada vez mais dependente dos interesses comerciais da Rede Record. No domingo retrasado, por exemplo, a revista eletrônica da emissora de Edir Macedo veiculou, de modo extremamente irresponsável, uma reportagem preconceituosa contra as religiões de matriz africana. Com a desculpa de que a Rede Globo dá pouco espaço aos evangélico (o que, convenhamos, está longe de ser verdade), a TV paulistana destilou desconhecimento e ignorância, além de praticar, vale dizer, um ato de intolerância religiosa.

Para o excesso de programas religiosos veiculados nas emissoras brasileiras. Com exceção do SBT, todas as emissoras - incluindo a Rede Globo, com o chato Festival Promessas - vendem parte de sua programação a igrejas, quase sempre, de origem neopetencostal. Em atrações enfadonhas e mal-produzidas, uma série de pastores pode ser vista espalhada pela programação das televisões brasileiras. Um saco. O fenômeno evangélico é rico culturalmente e bastante interessante, mas a sua recepção no grande público, diante de programas tão ruins (além de suas recorrentes demonstrações de intolerância ao que é diferente), fica comprometida.

Para a falta de verossimilhança de Salve Jorge, que frequentemente pulula no enredo de Glória Perez. Ontem, por exemplo, Morena (Nanda Costa) e Jéssica (Carolina Dieckmann), em vez de entregarem a quadrilha turca de tráfico de pessoas a Helô (Giovanna Antonelli) ou  a Théo (Rodrigo Lombardi), pessoas mais próximas e mais gabaritadas para cuidar do caso (ela é delegada, ele é militar), denunciaram o esquema a Lívia Marini (Cláudia Raia), vilã da novela que, pelo menos a priori, nada tinha a ver com a situação das traficadas. Para piorar, o enredo de Glória Perez ficou ainda mais comprometido quando, em uma conjuntura totalmente casual, Lívia mata Jéssica com uma injeção letal que guardava na bolsa. Sinceramente, quem, casualmente, anda com uma injeção letal dentro da bolsa?

Para a diferença de tratamento do relacionamento lésbico entre Mara (Camila Morgado) e Sereia (Isis Valverde) em comparação com os relacionamentos heterossexuais da trama, em O Canto da Sereia. Enquanto as cenas de amor entre a protagonista e Paulinho de Jesus (Gabriel Braga Nunes) foram mostradas sem muito véu, as trocas de carinhos entre as duas mulheres foram encenadas de forma seca e muito disfarçada. Um claro exemplo do tal padrão Globo de qualidade, que é muito semelhante aos códigos preconceituosos que reinavam no cinema hollywoodiano da década de 70.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Aplausos: Para O Canto da Sereia, seriado da Rede Globo escrito por George Moura e Patrícia Andrade. Com a esperta direção de José Luiz Villamarim, a produção ganhou ares de um perspicaz romance policial, ainda que o livro que inspirou a história (de Nelson Motta), falemos a verdade, seja bem ruim. Destaque para a ótima trilha sonora e para o elenco afinadíssimo. Vale mencionar Fabíula Nascimento, Gabriel Braga Nunes, Camila Morgado, Marcos Palmeira, João Miguel e a volta de Zezé Motta, uma das grandes damas da teledramaturgia brasileira.

Para Marjorie Estiano, Camila Pitanga e Isabela Garcia, que deram um show nas cenas em que Laura, personagem de Marjorie, é assediada por importante senador, em Lado a Lado. A dor das atrizes comoveu e foi bastante real. Mais uma cena espetacular de um elenco que beira o impecável.

Para Doce de Mãe, tele-filme da Rede Globo protagonizado por Fernanda Montenegro. Jorge Furtado, conhecido diretor de cinema brasileiro, trouxe para a TV a sensível e comovente história de uma idosa mãe que, após a partida de sua empregada, vê-se sozinha em seu apartamento. O roteiro, a propósito, trouxe questões importantes e delicadas, geralmente negligenciadas pela postura conservadora da emissora, que foram tratadas pela produção de forma sublime e bastante inteligente. 


Vaias: Para a repentina, equivocada e injustificada saída de Guilherme Prates, protagonista da atual temporada de Malhação. Por conta de uma suporta rejeição por parte do público, a direção da emissora decidiu, de forma arbitrária, retirar o mocinho da novelinha teen. Um completo desrespeito ao ator, ao roteiro traçado pela autoria e, é claro, ao telespectador, que vê toda a coerência da trama se perder por conta de questões exclusivamente comerciais. Prates, vale dizer, é um ótimo ator jovem, mas não se adequa à pobre fórmula da televisão, que privilegia corpos sarados em detrimento dos talentos dramáticos. Com isso, um dos pontos fortes dessa temporada, a saber, a presença de uma protagonista adolescente com cara e corpo de adolescente, vai por água abaixo. Patético.

Para Antonia Morais e Jesus Luz, de Guerra dos Sexos, que a cada dia ficam piores em suas personagens. Ela, filha da protagonista Glória Pires, não demonstra qualquer intimidade com a câmera. É fraca, não tem a menor técnica e não convence nem mesmo em uma cena mais simples. Precisa estudar muito. Ele, por sua vez, é ainda pior e claramente caiu de pára-quedas na escalação da novela. Os elencos, hoje em dia, parecem ficar cada vez mais reféns dos contratos de publicidade e dos rostinhos bonitinhos. Uma pena. É por conta disso que a televisão, muitas vezes, é tratada como arte menor.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Melhores do Ano em 2012 - RESULTADO



Atuação em Série Nacional : Érika Januza (Suburbia)

Série Nacional: Suburbia (Luiz Fernando Carvalho)

Trilha Sonora: Lado a Lado (Dennis Carvalho e Vinicius Coimbra)

Fotografia: Avenida Brasil (Fred Rangel)

Figurino: Cheias de Charme (Gogoia Sampaio)

Direção de Arte: Avenida Brasil (Ana Maria Magalhães e Cristina Demier)

Direção: Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarin (Avenida Brasil)

Autor: Filipe Miguez e Izabel de Oliveira (Cheias de Charme)

Ator Coadjuvante: José de Abreu (Avenida Brasil)

Atriz Coadjuvante: Titina Medeiros (Cheias de Charme)

Ator: Murilo Benício (Avenida Brasil)

Atriz: Adriana Esteves (Avenida Brasil)

Novela: Lado a Lado (João Ximenes Braga e Cláudia Lage)