sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aplausos: Para Saramandaia, novela do brilhante Ricardo Linhares. Além da direção correta e do elenco estupendo, a novela das onze se destaca em um elemento crucial: o texto. Linhares, autor que vai contra a linha conservadora da emissora, discute temas importantes de modo crítico e inteligente. Aborto e prostituição, por exemplo, foram questões tratadas, nos últimos capítulos, sem nenhum tipo de moralismo barato. Embora a audiência não esteja correspondendo, é bonito ver que há cabeças pensantes no corpo de autores de Rede Globo.

Para Sangue Bom, que ganhou fôlego e consistência nas últimas semanas. Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari conseguiram, finalmente, dar noção de conjunto à obra das sete, entrelaçando todas as tramas de maneira eficiente. A guinada, que vem aliada ao texto esperto, sarcástico e frequentemente questionador, fez com que a novela desse um salto significativo de qualidade. É, junto com Saramandaia, a melhor novela em exibição.



Vaias: Para Amor à Vida, que continua perdida em meio aos caprichos de um autor pouco talentoso. Texto piegas, personagens mal construídos e tramas mal desenvolvidas são só alguns ingredientes do mar de mau gosto que tomou conta do pobre horário nobre. Um horror.

Para a nova temporada de Malhação, que parece não ter entendido muito bem o conceito da novelinha. Destinada ao público adolescente, a série erra ao trazer um tema bastante careta como mote de seus dilemas. A família de propaganda de margarina que conduz o eixo central da trama, definitivamente, é pouco interessante até mesmo para um folhetim adulto. No meio dos jovens, então, tradicionalmente questionadores e descolados, a valorização dos laços familiares torna-se, provavelmente, estafante. Mais do que isso, a família encabeçada por Tuca Andrada e Isabela Garcia, na medida em que é apresentada sob um ponto de vista bem tradicional e idealizado, não apresenta traços muito instigantes. Uma chatice repleta de clichês.

sábado, 6 de julho de 2013

Aplausos: Para três casais de Saramandaia: Débora Bloch e Gabriel Braga Nunes, Lília Cabral e José Mayer, Chandelly Braz e Sérgio Guizé. A novela, uma perfeição de dramaturgia, também se destaca pela escalação. O bom texto aliado à química existente entre os atores faz com que o público torça pelos casos de amor presentes no enredo.

Para o Altas Horas, programa comandado por Serginho Groismann. O programa é antigo, é verdade, mas o blog não pode deixar de mencionar a riqueza cultural que Serginho coloca em seu palco. De duplas sertanejas a companhias famosas de balé, o programa abraça a arte sem o menor preconceito. O clima divertido, aconchegante e reflexivo da atração também empolga. Nota dez.

Para o Esquenta, outro programa de auditório revolucionário. Regina Casé traz, aos domingos, a cultura popular da maneira mais escancarada. Funk, samba, pagode, axé e outros ritmos que ditam o tom da periferia povoam o riquíssimo contexto que Regina cria. A atração, vale dizer, também é questionadora: Discute questões do ponto de vista da favela: a violência policial, a diversidade, a desigualdade. E, para isso, Regina não se furta de recorrer a especialistas tradicionalmente presos ao universo acadêmico. Encantador.





Vaias: Para Paolla Oliveira, que deu uma aula de amadorismo na cena em que Paloma, sua personagem, tira satisfações com Bruno (Malvino Salvador). A atriz, uma das mais bem-posicionadas da emissora, não conseguiu passar a menor emoção. Entre berros e puxões no próprio cabelo, Paolla recorreu a recursos que até uma atriz de teatro de escola conhece. Péssima.

Para a trama envolvendo Filipinho, personagem de Josafá Filho em Sangue Bom. Ainda que o mote da trama seja bom, ou seja, as celebridades que criam uma vida de mentiras para disfarçar a própria homossexualidade, parece-me que o centro da questão, a diversidade, é quase sempre jogada de maneira boba e pouco refletida. No fim das contas, a novela deixa parecer que é muito natural que uma pessoa sinta vergonha de sua orientação sexual. Bem sabemos, na verdade, que isso é uma grande bobagem e vem perdendo força nos tempos atuais. Em outras palavras, mesmo que o constrangimento da homossexualidade declarada em público no mundo preconceituoso da fama seja óbvio, falta alguém, no universo de personagens, para apontar que não há nada de vergonhoso em ser gay, lésbica ou o que quer que seja. O texto fica bobo, raso e destoa do bom trabalho que a dupla de autores vem fazendo.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

De Cabo a Rabo

Os quatro horários das grandes novelas da Rede Globo estão ocupados. O blog, então, resolveu traçar um panorama das principais atrações da teledramaturgia da emissora carioca:

- Flor do Caribe: Depois da ousada Lado a Lado, a novela de Walther Negrão decidiu resgatar o caminho do folhetim tradicional. Uma mocinha ingênua, um heroi destemido, um vilão detestável, um conjunto maniqueísta povoado pelas belas paisagens do Rio Grande do Norte. No IBOPE, a estratégia funcionou: Flor do Caribe recuperou a audiência do horário e é, atualmente, a única novela global realmente bem-sucedida nesse quesito. Isso porque, vale dizer, o folhetim é, de modo geral, quase perfeito: bem-conduzido, bem-escrito, bem-escalado e bem-dirigido. Apostar em uma tradicional e redondinha trama água-com-açúcar parece ter sido uma ótima escolha.

- Sangue Bom: A novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari estreou com expectativas. Ela, autora portuguesa respeitada por um estilo elegante; ele, dramaturgo promissor da nova safra. A trama, no entanto, peca como conjunto. Embora haja aspectos formidáveis (texto afiado, tramas paralelas encantadoras, etc.), falta à novela uma sinopse mais forte, uma trama que sustente e dê liga a todas as outras. Sem isso, Sangue Bom parece esquizofrênica. E não só por isso: apesar de Dennis Carvalho acertar em cenas de drama, peca por um excesso de caricatura nas cenas de humor. De todo modo, ainda que as cenas de humor sejam, quase sempre, mal-dirigidas, personagens cômicos paralelos fazem parte dos melhores momentos que a obra proporciona: Bárbara Ellen (Giulia Gam), Tina (Ingrid Guimarães) e Damaris (Marisa Orth) são personagens magníficas. No viés dramático, temos outros enredos que valem a pena: Irene (Débora Evelyn) e Verônica (Letícia Sabatella) tiveram seus instantes grandiosos. Mas a falta de uma trama central realmente interessante não colabora. Não há a menor vontade de acompanhar a novela no dia seguinte. E os protagonistas, a propósito, são fracos e interpretados por atores sem muito carisma. Sophie Charlotte e Marco Pigossi, definitivamente, precisam de um pouco de sal. A dubiedade de Amora, é claro, colabora para a falta de empatia. Nesse cenário, destacam-se Malu, mais um grande trabalho de uma atriz muito criticada no passado, Fernanda Vasconcellos, e Giane, que confirma Isabelle Drummond como a promessa mais certa de sua geração.

- Amor à Vida: Amor à Vida é fraca. E muito por causa de seus diálogos: nunca se viu um texto tão vergonhoso no horário nobre. Além disso, a própria estrutura dramatúrgica da novela é recheada de escaletas fáceis: esquetes de humor dignas de Zorra Total. É o caso das tramas de Valdirene (Tatá Werneck) e Perséfone (Fabiana Karla). O pilar dramático é um pouco mais forte: conta com o dúbio César (Antonio Fagundes), de longe o personagem mais interessante. No entanto, os demais personagens parecem rendidos ao velho maniqueísmo meio místico, ingênuo e quase imbecil de Walcyr Carrasco. Paloma, protagonista interpretada por Paolla Oliveira, é ingênua em excesso. Félix, o tão aclamado vilão de Mateus Solano, é uma caricatura. Aliás, muito se esperava desse personagem. O autor, entretanto, errou em seu conceito. E o ator, é preciso dizer, foi junto. Solano optou pela caricatura em uma personagem que exigia muitas nuances. Derrapou. A Solano, recomendo ver o excelente trabalho de Débora Falabella em Avenida Brasil, a mocinha vingativa que só precisou se render aos tons mais fortes no capítulo 100. No mais, a direção aposta em inovação e quase sempre acerta. 

- Saramandaia: Sem dúvida alguma, a melhor novela no ar. Protagonizada por excelentes atores, que vão da magnífica Lília Cabral ao estreante Sérgio Guizé, o folhetim é muito bem escalado. A dramaturgia de Ricardo Linhares encanta: flerta com o realismo fantástico mais tradicional (já que passa por novelas como Porto do Milagres e por escritores tradicionais do gênero como García Marquez), mas também aposta em uma linguagem circense e colorida, algo bem mais próximo da fantasia do que do soturno clima de obras como Incidente em Antares. E funciona. A direção é tradicional, mas nem por isso ruim. Núcleos inovadores, como o de Ricardo Waddignton e o de Mauro Mendonça Filho, são, é claro, fundamentais. Mas nem são (e nem devem ser) únicos. Direções com fotografia, planos e cortes mais tradicionais são essenciais e marcam as diferenças de estilo. Seria muito chato se víssemos o mundo tão somente com o asséptico filtro azul de Amor à Vida, não é verdade? A trilha sonora é outro ponto fortíssimo. Até aqui, o folhetim está perfeito. Algo muito superior ao que vimos em Gabriela.