segunda-feira, 17 de março de 2014

Pedro Bial e a cultura da culpa da mulher

Não venho acompanhando o Big Brother Brasil. Um acontecimento polêmico, no entanto, chamou-me a atenção: segundo os telespectadores do programa, Cássio teria denunciado a tentativa de abuso de Marcelo à Ângela, que recebeu carícias apimentadas do "brother" enquanto estava completamente bêbada. O abuso foi evidente: o próprio participante o admitiu em uma dinâmica que eu, por curiosidade, assisti. "Quer dizer que não se pode tentar ficar com alguém que está bêbado?", perguntou Marcelo, com assustadora naturalidade. A resposta é não, obviamente, um bom senso que parece escapar a todos os envolvidos no reality: à direção, aos "brothers" (que acusavam Cássio como uma ira desmedida), a Pedro Bial.

Sim, Pedro Bial parece ter escolhido o caminho mais repugnante: culpou Ângela, a vítima, que, diante de toda aquela pressão, acabou abraçando o seu abusador. O baluarte da intelectualidade da emissora carioca, celebridade que, dizem as más línguas, já esteve envolvido em casos igualmente escabrosos em seu casamento com a atriz Giulia Gam, não disfarçou a sua ira contra a mulher. Ângela recebeu almofadas e copos d'água no rosto, um selinho quando estava desacordada, mas mesmo assim foi eleita pelo apresentador como a culpada. Acuada, sentiu-se na obrigação de esclarecer algo que, sinceramente, tão-somente as imagens poderiam dizer. E dizem: imagens que mostram os abusos já circulam na internet. A cultura da culpa da mulher mais uma vez fala mais alto, dessa vez com o aval do apresentador intelectualóide adepto de hermetismos vazios (quiçá com o aval desse Brasil tão varonil). Deixo, aqui, registrado o meu asco.