sábado, 24 de maio de 2014

Vale a pena ver demais: Geração Brasil

Sucedendo a fraca e irregular Além do Horizonte, Geração Brasil estreou com a promessa de continuar com o legado que os autores, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, deixaram em Cheias de Charme. E conseguiu: a novela repetiu a agilidade, a esperteza textual e a ótima dramaturgia que encantaram o Brasil em 2012. 

Assim como o folhetim das empreguetes, Geração Brasil é dinâmica, traz ótimas sacadas em seu roteiro e é composta por personagens que, desde já, prometem ser emblemáticos: o poderoso Jonas Marra, a engraçadíssima Pamela Parker, a atrapalhada Verônica Monteiro, a fina e elegante Dorothy Benson são só alguns exemplos. Esta, a propósito, é um show à parte: no papel de uma transexual de dupla nacionalidade, Luís Miranda tem tudo para se consagrar como grande ator. Resta esperar. De todo modo, o elenco é formado por ótimos atores, dos mais consolidados aos iniciantes: Murilo Benício, Renata Sorrah, Cláudia Abreu, Taís Araújo, Titina Medeiros, Aracy Balabanian, Leandro Hassum, entre outros.

O texto é, sem dúvida, o que mais encanta. Cheio de referências às inovações tecnológicas e ao mundo pop em geral, Geração Brasil é inteligente sem ser pedante. Não é difícil ouvir nomes como Steve Jobs e Bill Gates ou escutar expressões como "poker face"e "what a hell". O mundo pop, aliás, é um dos grandes destaques que circunscrevem a produção. No capítulo de ontem, por exemplo, fez menção, por meio de Dorothy Benson, ao filme Psicose, clássico de Alfred Hitchcock, em uma cena em que a mãe de Brian revela seu medo de transformar-se em uma espécie de "caveira de peruca". Impagável. Isso sem contar com personagens de clara inspiração em personalidades notórias: da caliente Maria Vergara, obviamente inspirada na atriz Sofia Vergara, à problemática patricinha Megan Lilly Parker-Marra, uma versão californiana de Lindsay Lohan brilhantemente defendida por Isabelle Drummond, mais uma vez em uma composição impecável. 

Resta saber, porém, se o público do horário é capaz de acompanhar uma novela tão cheia dessas referências. Para a dona de casa comum, aquela que não conhece as peripécias de Lindsay e mal teve acesso aos atributos de um Nokia 3320, entender o que se passa em um folhetim tão dinâmico pode ser uma tarefa árdua. Torçamos para que a novela, uma das melhores dos últimos tempos, emplaque mesmo diante dessa conjuntura.

domingo, 4 de maio de 2014

Domingo na Globo expõe opostos na programação

Domingo à tarde, somos agraciados com a presença do Esquenta, sem dúvida um dos melhores programas de auditório da televisão. Regina Casé conseguiu elaborar uma maneira de sintetizar a pluralidade da cultura brasileira em pouco mais de 1 hora. Uma tarefa difícil, mas alcançada pelo programa de Regina de modo magistral. Do funk ao tropicalismo, de Valesca Popozuda a Tom Zé, de Preta Gil a Mangabeira Unger, todos parecem muito à vontade em uma atração que, em um país de velhas oligarquias e forte conservadorismo, encanta por dar voz às minorias e por seu progressismo moral. É justamente nesse clima popular, numa linguagem extremamente acessível, que o programa discute temas importantes como a violência policial e o trabalho infantil. Regina Casé, aliás, também não fica atrás: mostra todo o seu talento na função de animadora.

Horas mais tarde, porém, a Rede Globo insere na programação o péssimo, cansativo e ultrapassado Domingão do Faustão. Ultrapassado como o seu apresentador, um profissional que parece a cada dia mais engessado por uma formação que às claras evidencia um anacronismo. Em um desses últimos domingos, Faustão cometeu uma gafe bastante constrangedora ao humilhar uma dançarina da cantora Anitta, fazendo uma piada (muito sem graça, diga-se de passagem) sobre o cabelo da moça (a propósito, negra). Em vez de reconhecer o erro e pedir desculpas não só à dançarina, mas a todo um grupo de brasileiros, preferiu a teimosia e a arrogância. No sentido oposto, recorreu a argumentos no mínimo racistas. O discurso "tenho amigos negros, até convivo com eles" chegou a ser utilizado. Para completar, mencionou Fábio Porchat, um dos humoristas menos talentosos da geração stand-up (que já não é nada talentosa). Dispensável.