sábado, 9 de agosto de 2014

O primeiro balanço do ano: principais novelas

O blog ficou meio parado durante um tempo, posto que estive meio ocupada com a minha vida profissional. Pois bem, retomo as atividades com uma grande passada geral pelas principais novelas que foram ou estão no ar em 2014:

- Meu Pedacinho de Chão: A novela das 6 comandada por Luiz Fernando Carvalho entrou na conta da crítica especializada como produção memorável. No entanto, creio que Meu Pedacinho de Chão esbarrou em certos contratempos estruturais: o texto de Benedito Ruy Barbosa, como sempre, transpareceu algum anacronismo acrítico, principalmente no que diz respeito ao senso de progressismo moral. Nada, porém, que tenha comprometido o apuro técnico e estético do folhetim, algo que não raro encheu os olhos do telespectador. Luiz Fernando Carvalho, à parte do modelo rural pouco problematizado do autor, conseguiu usar todos os elementos da dramaturgia a seu favor, um resultado que só conseguiu alcançar com a ajuda de uma fotografia muito esperta e uma trilha sonora mais que encantadora.

Destaque do elenco: Irandhir Santos foi o dono da novela.

Avaliação: Boa.



- Boogie Oogie: Falar sobre algo no início é sempre uma pegadinha. Mas Boogie Oogie já deu mostras de que não pretende ousar em quase nada. O roteiro é uma sucessão infindável de clichês, um retalho já costurado uma infinidade de vezes por outros autores. Mas funciona. Com uma fórmula batida e certa, Ruy Vilhena optou pelo folhetim mais tradicional. O grande público agradece. Já para aqueles que viajaram no experimentalismo de Meu Pedacinho de Chão, Boogie Oogie tem a sua miríade de pecados. Cada qual com o seu gosto. Aqui, deixo uma nota: a direção de arte de Boogie Oogie é no mínimo ruim. Mais do que erros de datação, a direção se perde em um ambiente que mais parece um programa de humor da extinta MTV. Um mico.

Avaliação: Boa.

Destaques do elenco: Isis Valverde, Marco Pigossi, Alessandra Negrini.



- Além do Horizonte: Além do Horizonte começou confusa e com pontas propositadamente soltas. A certa altura de seu desenvolvimento, chegou a empolgar. Com uma dramaturgia ágil e competente, os autores souberam tornar a trama da comunidade da interessante. Na busca por audiência, porém, o folhetim se perdeu. A sua "novelização" a tornou chata e repetitiva. Novela para se esquecer.

Avaliação: Regular.

Destaques do elenco: Mariana Rios, Maria Luisa Mendonça, Rômulo Estrela, Luciana Paes, Igor Angelkorte.



- Geração Brasil: A novela estreou prometendo. Miguez e Izabel criaram uma gama de personagens espetaculares. Mas uma novela não é feita somente por um leque de bons personagens: é preciso roteiro, coisa que o folhetim das 7 não tem. Simplesmente nada acontece, e os reality shows inseridos na trama pelos autores mais parecem barrigas de dramaturgia. Eles não são legais. Eles não são interessantes. Eles são chatos. Outro ponto bastante negativo é Brian Benson, um papel a ser riscado da carreira de Lázaro Ramos. O conceito é ótimo, mas não funcionou. Nesse mar de perdição, personagens como Gláucia Beatriz (Renata Sorrah), Megan Parker (Isabelle Drummond), Dorothy Benson (Luís Miranda) e Verônica Monteiro (Taís Araújo) ganham menos importância do que deveriam ter. Até reclamaram de uma suposta falta de antagonista. Sinceramente, quem tem uma antagonista da tarimba de Renata Sorrah não pode reclamar de falta de antagonista. Sinal que algo está errado no desenvolvimento.

Avaliação: Regular.

Destaques do elenco: Taís Araújo, Leandro Hassum.



- Em Família: A primeira fase de Em família foi ótima, no mínimo. A segunda, em contrapartida, foi um fiasco. E não falo de audiência, fator que, ainda mais nos dias de hoje, pode ser contornado pela qualidade. Maneco simplesmente não desenvolveu a história de sua personagem mais interessante, a amarga Helena de Julia Lemmertz. Sua protagonista mais promissora virou coadjuvante em uma história que ninguém tolerava: o ímpeto da superficial Luiza em sua paixão pelo insuportável Laerte. A direção, a propósito, merece uma nota à parte: nunca vi algo tão amador e desastroso. Horrível. Os pontos positivos ficaram por conta do romance entre Clara e Marina, trama que foi, em meio ao desleixo geral, bem desenvolvida, e da saga meio louca de Juliana em busca da filha adotiva Bia, uma confusão que rendeu bons momentos.

Avaliação: Regular.

Destaques do elenco: Vanessa Gerbelli, Marcelo Melo Jr.



- Império: Agora falo da melhor novela do ano. Aguinaldo Silva vem provando que não perdeu a boa forma de Tieta: volta a fazer um folhetim que marca época. A novela é um espetáculo sem fim: Personagens memoráveis, uma trama envolvente, um quê de crítica social aqui e ali. Se Silva é conhecido por suas posições conservadoras, a sua obra tem traços de esperteza quase militante. Da carismática travesti Xana Summer à suburbana clássica Lorraine, Aguinaldo dá um verdadeiro show de tipos complexos, controversos e bastante distantes de um maniqueísmo vulgar. Aliás, vale ressaltar todo o esplendor do leque de anti-heróis que, não é injustiça nenhuma dizer, sustentam a novela: a beata Cora, o emergente José Alfredo e a fabulosa Maria Marta. Os três não são apenas maus: eles são complexos, tem suas nuances e seus porquês. Aguinaldo Silva criou uma pérola. Resta saber se saberá desenvolvê-la.

Avaliação: Excelente.

Destaques da novela: Lília Cabral, Alexandre Nero, Leandra Leal, Ailton Graça, Drica Moraes.



- O Rebu: A novela original que inspirou O Rebu marcou época por sua ousadia. Corajosa, a trama apresentava um protagonista meio queer e envolvido em um romance com o suposto sobrinho, um assassinato cujo morto só foi revelado durante o folhetim, uma mocinha que ostentava todo o progressismo dos cabelos curtos. O Rebu de 2014 não tem nada de original em seu roteiro, para não dizer o mínimo. Pelo contrário, optou pelo caminho inverso: o clichê da investigação criminal. Mais do que isso, um clichê muito mal desenvolvido: em uma estratégia pouco inteligente, os capítulos deixam pouco revelam, algo que deixa o telespectador cansado e nada envolvido. O destaque de O Rebu é mesmo a direção. Villamarin é realmente um dos melhores diretores da atualidade. A fotografia de Walter Carvalho, os cortes muito sagazes e a trilha sonora fenomenal embalam uma trama que, de conteúdo, tem pouco a oferecer. Torçamos que o último capítulo seja empolgante o suficiente para redimir o resto da novela.

Avaliação: Regular.

Destaques da novela: Cássia Kis Magro, Camila Morgado, Jesuíta Barbosa, Vera Holtz, Sophie Charlotte.