Império, novela que pretendia ser a redenção de
Aguinaldo Silva depois das sofríveis Duas Caras e Fina Estampa, estreou há
alguns meses deixando a impressão de que seria emblemática. E com toda a
justiça: uma trama principal arrebatadora circundada por debates muito
polêmicos do ponto de vista moral. Mas Aguinaldo, talvez por conta de sua
recente postura conservadora (política e artística), conseguiu, ao mesmo tempo,
transformar o centro de seu folhetim em algo não muito dinâmico e esvaziar
completamente todos os questionamentos que, nas primeiras semanas, surgiam como
diferenciais.
Comecemos pela trama principal. Aguinaldo iniciara
bem: uma mocinha bem-conduzida interpretada pela sempre segura Leandra Leal; vilãs
imperdíveis e defendidas por duas das maiores atrizes do Brasil, Lília Cabral e
Drica Moraes; um protagonista charmoso e com uma boa dose de excentricidade.
Mas eis que, diante de seu senso de condução conservador, Aguinaldo cometeu um
pecado: transformou todos esses personagens em caricaturas insuportáveis.
Cristina, a mocinha, virou, digamos, uma mocinhazinha (minguada, aguada, sem muita
complexidade dramática). Maria Marta, a vilã de Lília Cabral, chegou a um tom
de arrogância ainda mais insuportável do que o de Tereza Cristina, a
antagonista de quadrinhos encenada por Christiane Torloni em Fina Estampa.
Cora, a prometida megera de Drica Moraes, virou uma carola patética (pelo
visto, Violante – de Xica da Silva –, seguirá sendo sua maior personagem). O
Comendador, por fim, perdeu a empatia ao passo que foi perdendo em
complexidade.
Por fim, a pólvora da novela, os vários personagens
homossexuais – que suscitariam, cada um a seu modo, boas reflexões – perderam a
razão de ser: Cláudio foi inserido em uma discussão chatíssima sobre direito à
privacidade. Sejamos sinceros: a única pessoa que está preocupada com esse
ponto de vista neste país é a perdida Paula Lavigne. Leonardo descobriu-se
bissexual e parece ter passado por um ritual de machoalfação. Virou escada da
personagem de Adriana Birolli, a péssima atriz que, por algum motivo que nos
escapa, é a queridinha do autor. Xana, e
esta é a personagem cuja mudança é a mais lamentável, vem perdendo a sua
humanidade em benefício de um humor que, sendo muito boazinha, é no mínimo idiossincrático
(a propósito, Xana também foi heterossexualizada depois de, nas primeiras semanas,
ter declarado a sua afeição por Elivaldo). Téo Pereira, que nunca teve lá muita
complexidade, é o único que continua como começou.
Assim, Império se transformou em um limbo que
acontece entre o Jornal Nacional e a primeira faixa de shows da emissora (e
diante da crise de audiência da Globo, isto é de fato significativo). Não repercute
nas redes sociais, no sofá ou na padaria. Não é ruim o suficiente para ser metralhada nem boa o bastante para ser elogiada. Só repercute na Veja, que não por
coincidência é editada por amigos do autor. Lamentável. E que venha Gilberto
Braga.