terça-feira, 25 de novembro de 2014

A falta do protagonismo negro nas novelas

O mais recente censo do IBGE (de 2010) comprova algo que intuitivamente já sabemos: a maioria da população brasileira é negra ou parda. Nas novelas, contudo, negros e pardos continuam como minoria. Vê-los nos folhetins brasileiros parece tarefa complicada, quase uma pesquisa árdua. Em geral, circulam pelas cozinhas ou pelas garagens dos motoristas. Nada de dramas complexos ou vidas próprias: os negros da Rede Globo servem apenas como ornamento - às vezes, como palhaços no núcleo cômico. É muito raro que tenham cenas mais elaboradas, caso de Sebastiana, a empregada - não nos diga? - que aos poucos vem ganhando espaço como show-woman da boate que dá nome à novela, Boogie Oogie. Mas mesmo esse tipo de trama, algo entre o pouco relevante e a figuração, é costume que se faz raro nas emissoras.

Nas novelas das oito, apenas 1 atriz negra conseguiu a façanha de ser protagonista: Taís Araújo. Entre os atores, nenhum mocinho negro deu o ar da graça até aqui. Taís Araújo é em geral a atriz negra que mais recebe papeis de destaque em outros horários, caso de Verônica, heroína de Geração Brasil. Seu marido, o também negro Lázaro Ramos, já teve outrossim seus personagens grandiosos. O maior deles (à exceção do coadjuvante Foguinho) talvez tenha sido Zé Maria, o protagonista da excelente Lado a Lado, novela que teve a sua força justamente nos excelentes questionamentos de fundo social - e vencedora do Emmy do ano passado. Camila Pitanga, parda, também tem a sua força: prestes a encarnar a mocinha da próxima novela das oito, Rio Babilônia, Camila fez sua carreira na televisão por meio de personagens marcantes: Bebel, a divertida prostituta de Paraíso Tropical, é um exemplo.

Portanto, podemos dizer que a Rede Globo ostenta em seus quadros três atores negros em seu primeiro escalão (digamos que há por volta de 30). Ainda assim, apenas uma novela das oito entre as cerca de 80 que a emissora já produziu na história foi protagonizada por uma atriz negra (Taís Araújo em Viver a Vida). No Brasil, relembremos, a maioria da população (desenhando, mais de 50%) é negra. Parece discrepante. Parece pouco. Parece fora da realidade. E é.

domingo, 16 de novembro de 2014

Boogie Oogie e o desfile de atrizes potentes

Entre os grandes méritos da atual novela das seis, encontra-se sem dúvida a ressurreição de grandes atrizes que, por um motivo ou outro, estavam sumidas do protagonismo da televisão. Boogie Oogie, nesse sentido, é um deleite para os olhos de fãs de grandes divas da teledramaturgia. Caso de Giulia Gam, indicada pelo blog como uma das melhores atrizes do ano, que está fazendo de sua Carlota uma das grandes forças motrizes do folhetim. Caso, também, de Alessandra Negrini, intérprete de Suzana, a carismática antagonista do mau caráter Fernando, personagem de Marco Ricca.

Mas a constelação de talentos bissextos não para por aí: Zezé Motta, por exemplo, atriz eternizada pelo filme ''Xica da Silva'', volta com uma personagem que dá gosto de ver: a desinibida Sebastiana. Betty Faria não fica atrás: Madalena surge como a grande matriarca da novela, uma vovó mais avant-garde do que todo o resto do elenco. Ana Rosa, outra veterana injustiçada pelo ostracismo dos últimos anos, consegue demonstrar toda a sua carga dramática na pele da sofrida Zuleica. E Thaís de Campos, figurinha repetida nas novelas da década de 90, volta com uma participação interessante em Boogie Oogie: Célia, sua personagem, é talvez a figura mais adequada à década retratada pelo folhetim. Mas é o retorno de Joana Fomm que chamou a atenção dos telespectadores nas últimas semanas. E em um papel matador: Odete, a suposta tia de Carlota, é ácida, ferina e manipuladora. Uma atriz maravilhosa, de técnica ímpar, que, por motivos de saúde, obrigou-se a recusar os últimos convites de sua carreira. E vem mostrando que continua dando show.

Mas não só de atrizes veteranas Boogie Oogie é feita: Sandra Coverloni (a Augusta), nome experiente do cinema laureado em Cannes, praticamente debutou nas novelas recentemente. E vem apresentando toda a sua competência. Alexandra Richter (a Luísa), Heloísa Perissé (Beatriz) e Rita Elmor (a Leonor) são também nomes recentes no cenário da teledramaturgia. Todas muito competentes. Já Fabíula Nascimento é um espetáculo à parte. A atriz já havia se destacado como a Olenka de Avenida Brasil. Entretanto, é em Boogie Oogie que a atriz encontrou todos os instrumentos para demonstrar o máximo de seu talento. A rancorosa Cristina é um espetáculo, como personagem e como composição. Mesmo atrizes que costumam emendar novelas estão em ótimas atuações: Débora Secco (a Inês) e Letícia Spiller (Gilda) são dois ótimos exemplos. Para completar, a novela é encabeçada pela correta Isis Valverde, ainda que Sandra suma um pouco da vista do telespectador diante de tantos bons personagens ao seu redor. Um deles, a patricinha Vitória, é diretamente responsável pelo ofuscamento da protagonista: Bianca Bin, para variar, também está inspiradíssima - atrevo-me a dizer que ela está em seu melhor papel.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Melhores do Ano - IV Prêmio Leila Diniz

A votação dos melhores deste ano será aberta aos leitores do blog. Ela ficará disponível durante os meses de novembro e dezembro. O resultado será divulgado em Janeiro. Somente as categorias não-técnicas estarão sujeitas à votação. Vote!


VOTAÇÃO ENCERRADA EM 30/12/14

domingo, 9 de novembro de 2014

Primeiras Impressões: Alto Astral

Novelas espiritualistas já não são nenhuma novidade: da célebre A Viagem à recente Alma Gêmea, o assunto aparece na telinha das emissoras de televisão com mais frequência do que pensamos. Novelas espiritualistas e cômicas, nesse mesmo sentido, também se encontram entre os conceitos pra lá de batidos: O Anjo Caiu do Céu e Deus Nos Acuda, por exemplo, tinham o mesmo contexto. E Alto Astral segue à risca a receita de apostar no seguro arroz-com-feijão: um amor que desafia a razão, o vilão implacável e sedutor, a cidadezinha de interior majoritariamente ocupada por personagens tão humildes quanto insossos. Nem a abertura é novidade: uma versão mais elaborada de Aquele Beijo embalada por uma das canções mais utilizadas pelas novelas brasileiras (Alma, de Zélia Duncan). A Rede Globo, talvez por conta dos fracassos de Geração Brasil e Além do Horizonte, decidiu jogar as suas fichas em algo que sempre funcionou.

E de certa forma continua a funcionar. A novela, como um todo, é correta. Entretém, é bem-escrita e bem-desenvolvida. Acompanhá-la não é nenhum fardo, visto que o enredo, além de tratar o tema com extrema leveza, caminha sempre dentro dos seguros limites do folhetim tradicional. A direção às vezes se mostra anacrônica, muito provável por conta dessa necessidade da produção em resgatar a nostalgia das novelas mais clássicas. Nada, porém, que comprometa a correição do conjunto. Os personagens, por sua vez, não são muito complexos: todos seguem a mesma receita do 'menos é mais'. Temperamentos controversos passam longe do carteado de personagens de Alto Astral. O elenco, à parte de uma peça aqui e ali, é bem escalado. No time de protagonistas, apenas Thiago Lacerda pareceu pouco à vontade. Mas é também do time de protagonistas que surge a principal figura da novela até o momento: Cláudia Raia. Samanta transforma todas as suas cenas em acontecimentos épicos: nada na vida da trambiqueira resulta em aparecimentos banais. E Raia, em casa com esta personagem, usa muito bem o que sabe fazer para ganhar destaque.

De qualquer maneira, não há como não fazer menção à autora da sinopse de Alto Astral, Andrea Maltarolli, a talentosíssima novelista que, para tristeza geral, faleceu em 2009. Na Rede Globo, escreveu a ótima Beleza Pura, folhetim que indiciava as marcas de uma carreira promissora. Carreira que, por uma fatalidade, esbarrou em uma doença fatal: e nada mais intrigante que a sua última sinopse carregasse elementos espiritualistas. Em Alto Astral, a marca de Andrea Maltarolli é notável - e arrisco a dizer que é exatamente sobre as suas marcas que a novela ganha seus pontos altos. Coube ao competente Daniel Ortiz, colaborador do malogrado remake de Guerra dos Sexos, a empreitada de desenvolver a novela. Afirmar se a novela vai ou não emplacar no horário é tarefa difícil. O que se pode dizer, porém, é que, de um jeito ou de outro, Andrea sentiria orgulho dos frutos que deixou por aqui.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Entre altos e (muito) baixos, Geração Brasil parte sem deixar saudades

Há quem diga que Geração Brasil tenha pecado por desafiar o folhetim tradicional. Na minha visão, o grande legado dessa controversa novela foi justamente a sua vontade de revolucionar. Nos personagens, na estrutura dos diálogos, na trilha sonora: o maior ponto positivo nesse folhetim foi o vanguardismo. Alguns de seus personagens, a propósito, serão inesquecíveis: Barata, a Família Parker-Marra, Dorothy Benson, exemplos não faltam para preencher a nossa argumentação. Os diálogos, outra boa inovação, às vezes se convertiam em monólogos. A trilha sonora, por fim, outrossim fugiu do tradicional: da ótima "Alma Sebosa", de Johnny Hooker, até a excelente "Combat Lover", de Nina Kinert.

Mas nada disso funciona sem história. Todo vanguardismo, se não for circundado de um desenvolvimento consistente, vira circo, uma loucura sem sentido. E foi exatamente isso o que aconteceu: Geração Brasil, de forma notável em sua metade, virou uma espécie de show injustificado de excentricidades. Os personagens se tornaram palhaços, os monólogos cansaram e a trilha sonora apenas coroou aquele pandemônio pouco elaborado (um kitsch que, muito longe de uma desordem felliniana, chegava ao ponto de ser de extremo mau gosto). Na reta final, já quando não havia mais salvação, os autores engrenaram. Voltaram a acertar o ponto do feijão: a trama principal ganhou corpo e a ascensão de Herval (Ricardo Tozzi) como grande vilão mostrou-se positiva. De certa maneira, a ligação entre conclusão e introdução foi muito coerente. Poucas pontas soltas ficaram entre o início e o fim. Só que faltou o meio.

Seja como for, a dupla Izabel de Oliveira e Filipe Miguez ainda podem ser considerados grandes promessas da nova geração. Ousadia não falta. Talvez o que ainda falte, uma boa dose de responsabilidade, seja algo que venha com o tempo.


Avaliação: Mediana.

Melhores do Ano de 2014 (Indicados)



Período de Votação: De 11 de novembro a 30 de dezembro.
Resultado: 30 de dezembro.


Atuação Feminina em Série Nacional 
Cássia Kis Magro (Amores Roubados)
Dira Paes (Amores Roubados)
Fernanda Montenegro (Doce de Mãe)
Isis Valverde (Amores Roubados)
Patrícia Pillar (Amores Roubados)


Atuação Masculina em Série Nacional
Bruno Gagliasso (Dupla Identidade)
Cauã Reymond (Amores Roubados)
Irandhir Santos (Amores Roubados)
Murilo Benício (Amores Roubados)
Osmar Prado (Amores Roubados)


Série Nacional 
A Grande Família (Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa)
Amores Roubados (George Moura)
Doce de Mãe (Jorge Furtado)
O Negócio (Lucas Paiva Mello e Rodrigo Castillo)
Sessão de Terapia (Selton Mello)


Trilha Sonora
Amores Roubados (José Luiz Villamarim)
Boogie Oogie (Ricardo Waddington e Gustavo Fernandez)
Geração Brasil (Denise Saraceni)
Meu Pedacinho de Chão (Luiz Fernando Carvalho)
O Rebu (José Luiz Villamarim)


Fotografia
Além do Horizonte (Paulo Souza)
Amores Roubados (Walther Carvalho)
Império (Sérgio Tortori e Fernanda Silva Santos)
Meu Pedacinho de Chão (José Tadeu)
O Rebu (Walther Carvalho)


Figurino
Boogie Oogie (Marie Salles)
Geração Brasil (Gogoia Sampaio)
Império (Helena Gastal)
Meu Pedacinho de Chão (Thanara Schoernardie)
O Rebu (Marília Carneiro e Keka Pinto)


Direção de Arte
Amores Roubados (Mário Monteiro)
Boogie Oogie (Nininha Medicis)
Doce de Mãe (Fiapo Barth)
Meu Pedacinho de Chão (Marco Cortez)
O Rebu (Lila Bôscoli e Tiza Oliveira)


Abertura
Além do Horizonte
Boogie Oogie
Meu Pedacinho de Chão
O Rebu
Pé Na Cova


Direção
José Luiz Villamarim (Amores Roubados)
José Luiz Villamarim (O Rebu)
Luiz Fernando Carvalho (Meu Pedacinho de Chão)
Ricardo Waddington e Gustavo Fernandez (Boogie Oogie)
Rogério Gomes (Império)
  

Autor
Christianne Fridman (Vitória)
George Moura (Amores Roubados)
George Moura e Sérgio Goldenberg (O Rebu)
Jorge Furtado (Doce de Mãe)
Ruy Vilhena (Boogie Oogie)


Ator Coadjuvante
Ailton Graça (Império)
Jesuíta Barbosa (O Rebu)
Leandro Hassum (Geração Brasil)
Luís Miranda (Geração Brasil)
Marcelo Mello Jr. (Em Família)


Atriz Coadjuvante
Camila Morgado (O Rebu)
Cássia Kis Magro (O Rebu)
Giovanna Rispoli (Boogie Oogie)
Marjorie Estiano (Império)
Vanessa Gerbelli (Em Família)


Ator
Alexandre Nero (Império)
Irandhir Santos (Meu Pedacinho de Chão)
José Mayer (Império)
Osmar Prado (Meu Pedacinho de Chão)
Tony Ramos (O Rebu)


Atriz
Drica Moraes (Império)
Giulia Gam (Boogie Oogie)
Lília Cabral (Império)
Patrícia Pillar (O Rebu)
Sophie Charlotte (O Rebu)


Novela
Boogie Oogie (Ruy Vilhena)
Geração Brasil (Izabel de Oliveira e Filipe Miguez)
Império (Aguinaldo Silva)
Meu Pedacinho de Chão (Benedito Ruy Barbosa)
O Rebu (George Moura e Sérgio Goldenberg)