quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Prêmio Leila Diniz (Melhores do Ano 2015): RESULTADO

Vencedores:

Atuação Feminina em Série Nacional: Beatriz Segall (Os Experientes)

Atuação Masculina em Série Nacional: Enrique Díaz (Felizes para Sempre?)

Série Nacional: Os Experientes (Quico Meirelles)

Trilha Sonora: Verdades Secretas (Mauro Mendonça Filho, J. Paulo Mendonça e Mariozinho Rocha)

Fotografia: Verdades Secretas (Mauro Pinheiro Jr. e Pablo Baiao)

Figurino: Amorteamo (Cao Albuquerque e Helena Araújo)

Direção de Arte: Amorteamo (Yurika Yamasaki)

Abertura: Amorteamo (Alexandre Romano, Flávio Mac e Fabrício Duque)

Direção: Mauro Mendonça Filho (Verdades Secretas)

Autor: Antônio Prata (Os Experientes)

Ator Coadjuvante: Rainer Cadete (Verdades Secretas)

Atriz Coadjuvante: Grazi Massafera (Verdades Secretas)

Ator: Alexandre Nero (A Regra do Jogo)


Atriz: Marieta Severo (Verdades Secretas)

Novela: Verdades Secretas (Walcyr Carrasco)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

domingo, 29 de novembro de 2015

Votação Aberta: Prêmio Leila Diniz

Neste ano, a votação do Prêmio Leila Diniz acontecerá por e-mail. Para votar, basta enviar uma mensagem para: bellebertolucci@gmail.com


Você pode votar em quantas categorias quiser (uma, várias ou todas). Os votos serão computados até o dia 31/12/15. A previsão de resultado é 01/01/2016.


Recapitulando as opções:

Indicados:

Atuação Feminina em Série Nacional 
Adriana Esteves (Felizes para Sempre?)
Beatriz Segall (Os Experientes)
Letícia Sabatella (Amorteamo)
Paolla Oliveira (Felizes para Sempre?)
Selma Egrei (Os Experientes)

Atuação Masculina em Série Nacional
Enrique Diaz (Felizes para Sempre?)
Jackson Antunes (Amorteamo)
João Côrtes (Os Experientes)
João Miguel (Felizes para Sempre?)
Johnny Massaro (Amorteamo)

Série Nacional 
Amorteamo (Guel Arraes)
Felizes para Sempre? (Euclydes Marinho)
Mister Brau (Jorge Furtado)
Os Experientes (Quico Meirelles)
Tapas e Beijos (Cláudio Paiva)

Trilha Sonora
Babilônia (Dennis Carvalho)
Felizes para Sempre? (Fernando Meirelles)
Os Experientes (Fernando Meirelles e Quico Meirelles)
Sete Vidas (Jayme Monjardim)
Verdades Secretas (Mauro Mendonça Filho)

Fotografia
Amorteamo
Felizes para Sempre?
Os Experientes
Sete Vidas
Verdades Secretas

Figurino
Além do Tempo
Amorteamo
Os Dez Mandamentos
Os Experientes
Verdades Secretas

Direção de Arte
Além do Tempo
Amorteamo
Os Dez Mandamentos
Sete Vidas
Verdades Secretas

Abertura
Amorteamo
A Regra do Jogo
I Love Paraisópolis
Sete Vidas
Verdades Secretas

Direção
Alexandre Avancini (Os Dez Mandamentos)
Fernando Meirelles (Felizes para Sempre?)
Flávia Lacerda (Amorteamo)
Jayme Monjardim (Sete Vidas)
Mauro Mendonça Filho (Verdades Secretas)

Autor
Antônio Prata (Os Experientes)
Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga (Babilônia)
João Emanuel Carneiro (A Regra do Jogo)
Lícia Manzo (Sete Vidas)
Walcyr Carrasco (Verdades Secretas)

Ator Coadjuvante
Conrado Caputto (Alto Astral)
Fernando Eiras (Verdades Secretas)
Frank Menezes (I Love Paraisópolis)
Rainer Cadete (Verdades Secretas)
Tonico Pereira (A Regra do Jogo)

Atriz Coadjuvante
Adriana Garambone (Os Dez Mandamentos)
Arlete Salles (Babilônia)
Cássia Kis (A Regra do Jogo)
Eva Wilma (Verdades Secretas)
Grazi Massafera (Verdades Secretas)

Ator
Alexandre Nero (A Regra do Jogo)
Bruno Gagliasso (Babilônia)
Domingos Montaigner (Sete Vidas)
Rodrigo Lombardi (Verdades Secretas)
Tony Ramos (A Regra do Jogo)

Atriz
Cláudia Raia (Alto Astral)
Drica Moraes (Verdades Secretas)
Fernanda Montenegro (Babilônia)
Irene Ravache (Além do Tempo)
Marieta Severo (Verdades Secretas)

Novela
Além do Tempo (Elizabeth Jihn)
Babilônia (Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga)
Os Dez Mandamentos (Vívian de Oliveira)
Sete Vidas (Lícia Manzo)
Verdades Secretas (Walcyr Carrasco)


Participe!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Melhores do Ano: V Prêmio Leila Diniz

Divulgação dos Indicados: 23/10/15
Abertura das Votações: 22/11/15
Encerramento das Votações: 30/12/15
Previsão de Resultado: 01/01/15



Indicados:

Atuação Feminina em Série Nacional 
Adriana Esteves (Felizes para Sempre?)
Beatriz Seagall (Os Experientes)
Letícia Sabatella (Amorteamo)
Paolla Oliveira (Felizes para Sempre?)
Selma Egrei (Os Experientes)

Atuação Masculina em Série Nacional
Enrique Diaz (Felizes para Sempre?)
Jackson Antunes (Amorteamo)
João Côrtes (Os Experientes)
João Miguel (Felizes para Sempre?)
Johnny Massaro (Amorteamo)

Série Nacional 
Amorteamo (Guel Arraes)
Felizes para Sempre? (Euclydes Marinho)
Mister Brau (Jorge Furtado)
Os Experientes (Quico Meirelles)
Tapas e Beijos (Cláudio Paiva)

Trilha Sonora
Babilônia (Dennis Carvalho)
Felizes para Sempre? (Fernando Meirelles)
Os Experientes (Fernando Meirelles e Quico Meirelles)
Sete Vidas (Jayme Monjardim)
Verdades Secretas (Mauro Mendonça Filho)

Fotografia
Amorteamo
Felizes para Sempre?
Os Experientes
Sete Vidas
Verdades Secretas

Figurino
Além do Tempo
Amorteamo
Os Dez Mandamentos
Os Experientes
Verdades Secretas

Direção de Arte
Além do Tempo
Amorteamo
Os Dez Mandamentos
Sete Vidas
Verdades Secretas

Abertura
Amorteamo
A Regra do Jogo
I Love Paraisópolis
Sete Vidas
Verdades Secretas

Direção
Alexandre Avancini (Os Dez Mandamentos)
Fernando Meirelles (Felizes para Sempre?)
Flávia Lacerda (Amorteamo)
Jayme Monjardim (Sete Vidas)
Mauro Mendonça Filho (Verdades Secretas)

Autor
Antônio Prata (Os Experientes)
Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga (Babilônia)
João Emanuel Carneiro (A Regra do Jogo)
Lícia Manzo (Sete Vidas)
Walcyr Carrasco (Verdades Secretas)

Ator Coadjuvante
Conrado Caputto (Alto Astral)
Fernando Eiras (Verdades Secretas)
Frank Menezes (I Love Paraisópolis)
Rainer Cadete (Verdades Secretas)
Tonico Pereira (A Regra do Jogo)

Atriz Coadjuvante
Adriana Garambone (Os Dez Mandamentos)
Arlete Salles (Babilônia)
Cássia Kis (A Regra do Jogo)
Eva Wilma (Verdades Secretas)
Grazi Massafera (Verdades Secretas)

Ator
Alexandre Nero (A Regra do Jogo)
Bruno Gagliasso (Babilônia)
Domingos Montaigner (Sete Vidas)
Rodrigo Lombardi (Verdades Secretas)
Tony Ramos (A Regra do Jogo)

Atriz
Cláudia Raia (Alto Astral)
Drica Moraes (Verdades Secretas)
Fernanda Montenegro (Babilônia)
Irene Ravache (Além do Tempo)
Marieta Severo (Verdades Secretas)

Novela
Além do Tempo (Elizabeth Jihn)
Babilônia (Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga)
Os Dez Mandamentos (Vívian de Oliveira)
Sete Vidas (Lícia Manzo)
Verdades Secretas (Walcyr Carrasco)

domingo, 27 de setembro de 2015

Verdades Secretas termina como novela do ano

Um elenco afiado, uma direção espetacular e uma história forte: essa combinação, convenhamos, é a receita do sucesso. Não foi diferente com Verdades Secretas, novela de Walcyr Carrasco com direção de Mauro Mendonça Filho.
 
A começar pelo elenco. Apesar de um pouco verde, a preparação de Camila Queiroz, a protagonista Angel, foi muito bem feita. A inexperiência da atriz não comprometeu em momento algum. Pelo contrário, a moça chegou a ter excelentes sequências e, com uma boa assessoria, pode alçar voos maiores no terreno da teledramaturgia. Rodrigo Lombardi, que começara um pouco caricato, soube dar charme e virilidade a um personagem que, pelo seu caráter amoral, foi um dos mais interessantes da novela. Marieta Severo, por sua vez, retornou às novelas do melhor modo possível. Grande atriz que é, ela soube dominar o seu núcleo com maestria. Em nada lembrou a doce e afável Dona Nenê, papel que interpretou por cerca de dez anos. Mas o grande destaque, vale dizer, foi Grazi Massafera. Desde o início da carreira, a atriz sofreu com a desconfiança e o preconceito. Aproveitou a oportunidade e fez de Larissa, sua personagem, um dos grandes elementos de empatia da obra.
 
A dramaturgia de Walcyr Carrasco, a propósito, também encantou. Como não se via desde Xica da Silva, Walcyr nos trouxe um argumento original e audacioso. Walcyr nos lembrou que sabe, sim, fazer mais do que comédias bobas pasteurizadas. Envolveu o público nos meandros de uma história interessante, instigante e corajosa. Claro que o horário das 23 horas favoreceu o seu ímpeto: há um limite de tolerância do público conservador em relação ao horário, algo que não vem acontecendo, por exemplo, nas novelas das 21 horas. Ainda bem. Ainda assim, Walcyr continua pecando (e com alguma frequência) quando começa a banalizar excessivamente o seu texto. Por cansaço ou pelo ritmo industrial da novela, Walcyr insiste, talvez como uma forma de preencher espaços, em enredos fáceis permeados por certos estereótipos de qualidade duvidosa: caso, por exemplo, do romance entre Visky, o ex-gay afetado, e Lourdeca, a gorda com baixa autoestima. Apenas um porém.
 
Mas o maior destaque de Verdades Secretas tem nome e sobrenome: Mauro Mendonça Filho. Um bom diretor sabe nos convencer de qualquer coisa. E Maurinho lidou, com uma maestria ímpar, com uma complexidade de temas que, nas mãos de um diretor inexperiente, poderia se tornar confusa e mal-executada. Mauro fez tudo muito bem - dos aspectos de edição mais técnicos, passando pela trilha sonora colocada, até a condução de um corpo de atores não muito experiente - e foi ainda mais além: não foram raras as oportunidades em que inovou de uma maneira que jamais havia sido reproduzida na TV. Escreveu a novela junto com o autor. Soube usar, por exemplo, efeitos especiais que davam um sentido psicológico à história. Muito se fala de Amora Mautner, mas é Mauro Mendonça Filho que, sem dúvida, é o grande candidato a ser o nome desta geração diretores.
 
Seja como for, Verdades Secretas nos instigou do início ao fim. E muito por causa de um argumento contundente, elemento que vem faltando, por exemplo, nas novelas das nove mais recentes. Um grande trabalho.


9/10

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Bate-Bola: Novelas

Além do Tempo: Por mais piegas que Elizabeth Jihn seja, é preciso reconhecer que Além do Tempo tem um argumento muito forte. Apesar de clichê, os desdobramentos de um romance destruído por preconceitos de classe são muito folhetinescos. Além disso, a essa altura já é possível afirmar que a autora soube conduzir a novela de um modo muito esperto. As tramas paralelas têm força e nada parece fortuito no mundo que Jihn desenhou. Ainda há a mudança de fase da novela, prevista para ir ao ar nos próximos meses. Uma manobra arriscada que, se feita de maneira condizente e justificável, pode selar Além do Tempo como grande obra. Até aqui, pelo menos, o saldo é positivo (apesar da afetação exagerada de Paolla Oliveira).
 
 
I Love Paraisópolis: O problema, aqui, é a caricatura de mau gosto. A favela de I Love Paraisópolis é de plástico, os seus personagens têm a profundidade de um pires. À parte disso, a novela cumpre bem o seu papel de entreter. Há, sim, partes bastante divertidas. Na maioria das vezes, o humor do folhetim das sete é baseado em um ritmo de esquete básico e sem muita criatividade. Clichê que funciona, entretanto, por causa do bom jogo de cintura dos autores. Os personagens principais, contudo, cansaram. O excesso de exposição a que foram submetidos transformaram os mocinhos numa espécie de doce com açúcar demais. Também existe um heroísmo exacerbado dispensável e pouco crível, principalmente em Benjamin (Maurício Destri). Pesa contra, outrossim, a interpretação caricatural e ruim de Caio Castro.
 
 
A Regra do Jogo: Elogiada nas redes sociais, a novela das nove tem um argumento confuso. O "vilão dos direitos humanos" mostra que João Emanuel Carneiro se atropela na necessidade de ser politicamente incorreto. Em primeiro lugar, existe uma falha de petição em sua tentativa de destruir o maniqueísmo do folhetim: se um personagem é mau fingindo ser bom, ele continua maniqueísta. Um personagem complexo é bom e mau, e não bom ou mau, ainda que ele finja. Caso contrário, segue a lógica da novela clássica e, ao menos para um telespectador mais atento, o personagem "dúbio" não transmite a menor empatia. Um erro clássico que boa parte dos autores já cometeram (como a Clara de Passione ou o Ferraço de Duas Caras). Em segundo lugar, o argumento é estranho e chega a ser um pouco tacanho. Uma "sociedade secreta de contraventores" foi jogada para o telespectador sem muita justificativa. Algo que, por ser alheio à realidade à vista da maioria das pessoas, deveria ser minimamente contextualizado. A novela tem sua força no roteiro, esperto e dinâmico, ainda que, como é costume nas obras do autor, certos elementos da cadeia causal de acontecimentos apresentem buracos. Uma nota negativa para Giovanna Antonelli, observação surpreendente diante da qualidade da atriz. Sua interpretação anfetaminada beira o over. Nada que não possa ser corrigido. Assim como a novela, é claro, que tem, sim, muito potencial em seu desenvolvimento.
 
 
Verdades Secretas: A trama de Walcyr Carrasco já começou a desdobrar-se por caminhos desnecessários. Assim como em Amor à Vida, a sua ânsia por polêmica turba a qualidade de sua dramaturgia, característica patente em suas tramas paralelas. Ainda assim, Verdades Secretas ainda é a melhor novela no ar. A trama principal, mesmo que volta e meia descambe para certos excessos, continua se desenvolvendo bem e instigando o telespectador. A direção de Mauro Mendonça Filho é o grande diferencial. Um profissional de extrema excelência.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Com muitos problemas e imprecisões, Babilônia deixa horário com uma das mais necessárias novelas dos últimos tempos

Babilônia encerrou sua trajetória com problemas grandes. Não apenas de audiência, visto que a trama dirigida por Dennis Carvalho obteve a menor média da história da faixa, mas também de execução. O principal defeito, vale dizer, é facilmente detectável: a falta de argumento. Havia, no início, a expectativa de que o mote do folhetim fosse a ambição de três mulheres muito diferentes. Mas a verdade é que esse indício não se concretizou: em nome de audiência, vários remendos foram feitos e uma vingança foi inventada de maneira abrupta para justificar o aceleramento da trama de Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Glória Pires). Ocorre que, com isso, a "corrida" transformou-se em um embate tacanho e a novela deixou de ter o eixo do paralelismo como justificativa. Regina (Camila Pitanga) ficou meio perdida e converteu-se em uma heroína ainda mais chata do que já havia demonstrado nos capítulos iniciais. Com isso, o argumento se desfez. Os acontecimentos do primeiro capítulo, apesar de em geral terem sido muito bem utilizados ao longo do folhetim, não demonstraram força o suficiente para sustentar uma novela de tantos meses. Tudo ficou arrastado e ao mesmo tempo fortuito demais, como se os acontecimentos se desenrolassem ao acaso e sem haver uma base forte que entrelaçasse as tramas. O excesso de interferência da emissora, enfim, revelou-se uma grande tragédia. Também surpreendeu a falta de gana dos autores em abrir novos caminhos sem modificar o argumento de sua novela.
 
Apesar de todos esses problemas, Babilônia, por incrível que isso pareça para telespectadores mais imediatistas, deixou um dos maiores legados da televisão dos últimos anos. O texto de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga apresentou um senso de criticidade e contextualismo raro em autores de telenovela. Racismo, homofobia, corrupção, tudo foi tangenciado por diálogos ferinos e muito bem desenvolvidos. Se não havia uma história maior e tudo pareceu casual demais, a "microdramaturgia" nunca deixou a desejar. Tiradas fantásticas não foram raras entre o marasmo que tomou conta de boa parte da novela. Em um diálogo entre Aderbal (Marcos Palmeira) e Tereza (Fernanda Montenegro), por exemplo, o prefeito evangélico evocou o desejo da maioria para justificar o seu preconceito acentuado contra homossexuais. A advogada, entretanto, respondeu com inteligência: nem sempre a maioria toma decisões democráticas e solidárias, isto é, a História da civilização mostra que o povo pode, sim, ser ditatorial e atropelar os direitos das pessoas que, não pertencendo à tal maioria, ficam mais fragilizadas diante de decisões políticas autoritárias. A democracia, assim, encontra-se justamente na necessidade de garantir o direito de todos, inclusive o direito das minorias. Uma passagem fantástica. E não foi a única.
 
Nesse tom político, aliás, as melhores histórias se desenvolveram. Consuelo Pimenta (Arlete Salles) consolidou-se ao longo do tempo como grande personagem de Babilônia. Preconceituosa, o arquétipo do novo rico pouco instruído que mora na Barra, a aspirante a socialite fez rir e causou ótimos momentos. Excelente ver Salles de volta a um papel à sua altura, coisa que não acontecia, ao menos em novelas, há bons anos. Também me agradou bastante o perfil de Beatriz, vilã interpretada pelo ícone Glória Pires. Uma espécie de Raskolnikov de saias, Beatriz levou sua amoralidade de maneira interessante. Beatriz tinha opiniões razoáveis e seus argumentos sempre se mostraram bem-concatenados. Não era, por exemplo, preconceituosa ou colérica. Um contraponto às vilãs clichês que mais babam do que falam. Tereza, a terceira grande mulher da novela, também foi, sim, um presente para Fernanda Montenegro. Dona do beijo mais comentado da história das novelas, Tereza interpretou a razoabilidade ética, uma oposição interessante ao equilíbrio amoral de sua enteada Beatriz. Se Bete Gouveia é uma página que poucos lembram na carreira da nossa maior atriz, o mesmo não pode ser afirmado a respeito de Tereza.
 
Enfim, Babilônia foi repleta de problemas. Repeti-los chega a ser uma bobagem diante do show de críticas negativas que, com merecimento, pipocaram por aí. É preciso, mais, reconhecer que, apesar dos pesares, Babilônia deixou um grande legado. Assim como Os Gigantes, Babilônia é um ponto que sempre será comentado por sua coragem em questionar.


6/10

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Comentário

Walcyr Carrasco é muito talentoso no que diz respeito à dramaturgia de suas obras. Sabe bem amarrar suas tramas de modo a prender a atenção de seu telespectador. A direção arrebatadora de Maurinho Mendonça, é claro, ajuda bastante. Mas é notável, contudo, que Verdades Secretas parece ter se rendido a um texto evidentemente mais pobre e mais inverossímil. Nos últimos capítulos, houve uma queda substancial de qualidade. Uma pena, visto que Verdades Secretas tem tudo para se tornar a novela do ano. Que chamem Maria Elisa Berredo.
 
 
Babilônia, por sua vez, é uma novela com um texto provocativo e crítico. Nada é muito fácil nas falas dos personagens da novela das nove. Muitas vezes ácido, Babilônia toca em diversas feridas sociais, e nisso o folhetim sustenta sua qualidade. Mas ao contrário de Verdades Secretas, não há história em Babilônia. A impressão conjuntural da obra transparece um arranjo fortuito, casual, sem nenhum eixo que sustente os acontecimentos. Como nos piores momentos de Manoel Carlos, Babilônia carece de qualidade quanto à dramaturgia. Falta uma das coisas principais, senão a principal, de qualquer obra de ficção de massa: um roteiro com um eixo forte de desenvolvimento.  

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Duas estreias previsíveis marcaram os últimos dias da Globo. Primeiro, Além do Tempo substituiu Sete Vidas no horário das 18h. Como já era de se esperar, Elizabeth Jhin indiciou que pretende repetir a fórmula de suas últimas novelas: uma boa dose de pieguice, outra boa dose de lições de vida pouco sofisticadas. Destaque para a correta direção de Rogério Gomes e para as interpretações sempre bem acertadas de Irene Ravache e Ana Beatriz Nogueira. Uma nota negativa para Paolla Oliveira. Depois do bom desempenho em Felizes para Sempre?, a atriz volta a escorregar com gravidade. Paolla está exageradamente afetada, trejeitos claramente inspirados por uma falsa impressão de que, para interpretar numa novela de época, é preciso abusar dos maneirismos. Algo a ser corrigido.
 
Tomara que Caia também cumpriu as péssimas expectativas que já havia causado nas suas chamadas. Com um roteiro fraquíssimo, uma dinâmica confusa e um elenco antiquado/mal escalado para a proposta do programa, o humorístico acabou se transformando em um grande festival de vergonha alheia. Será difícil salvá-lo, mas caso a direção da emissora ainda se interesse em tentar resgatá-lo de uma chuva de críticas, será necessário um remodelamento completo. A começar pelos roteiristas. Talvez seja interessante contar uma equipe mais antenada ao novo humor e às dinâmicas de improvisação. A terminar pelo elenco. Pessimamente escalado, os atores ficaram perdidos em uma praia que, qualquer pessoa preveria, não era a deles. Uma boa exceção foi Fabiana Karla, a única que parecia mais à vontade. Dani Valente, com ressalvas, também demonstrou um bom sentido de improvisação. O resto do time escalado é dispensável.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Superstar se consolida como a melhor opção de reality show musical

Ainda que a decisão do público não tenha sido uma unanimidade, o Superstar, reality show musical dirigido por Boninho, acertou em suas mudanças para a segunda temporada e consolidou-se como grande opção do formato no país. Ao contrário do chato e pouco diverso The Voice Brasil, o Superstar se envereda por um caminho muito profícuo: a variedade de participantes, o excelente desempenho da apresentadora e a boa escalação de técnicos.
 
A variedade dos participantes, a propósito, é fundamental. Um bom conjunto de artistas passou pelo palco do programa ao longo de sua duração. Entre o rock e o funk, o forró e o pop, o Superstar vai muito além de cantores amadores que insistem em uma fórmula soul-gospel de modulação de voz. Percebe-se a alma de quem faz música à parte de qualquer modelo.
 
Fernanda Lima também é, sem dúvida, uma apresentadora muito competente. Como um acontecimento, Fernanda sabe a importância de aparecer, em todos os domingos, como protagonista. Rodeada com todo o glamour, ela sempre surge como uma diva. E se porta como tal, uma vez que outrossim demonstra altivez quando precisa: com um tom de sarcasmo bem colocado, Fernanda se impõe como apresentadora, ao contrário do insípido Thiago Leifert, que comanda o The Voice.
 
A mudança dos jurados também foi fundamental: Sandy é significativamente mais estratégica que Ivete Sangalo (apesar de muito simpática, Ivete é péssima jurada), Paulo Ricardo é sem dúvida mais centrado que Dinho Ouro Preto, Thiaguinho é no mínimo mil vezes mais carismático do que o ultrapassado Fábio Jr.
 
Mesmo que todo reality show sempre tenha uma data de validade, a segunda temporada de Superstar prendeu a atenção e primou por uma dinâmica de qualidade. Resta saber se mantém o fôlego nos próximos anos.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sete Vidas termina com final irregular e grave defeito de argumento.

Sete Vidas passou pelos seus meses de exibição da melhor forma possível. O argumento era matador: uma nova família formada pelos métodos contraceptivos contemporâneos. Mas ele não foi concluído, enlaçado, problematizado em sua principal questão: o verdadeiro compromisso ético do protagonista Miguel (Domingos Montaigner) com a sua "família". Um homem que doa seu material genético em uma clínica de inseminação não se transforma automaticamente em pai: Lígia (Débora Bloch), esposa de Miguel, era a única com direitos legítimos. Os outros filhos, no entanto, não tinham um elo automático com o protagonista, algo óbvio para qualquer pessoa. Isso, contudo, não parecia um buraco no início da novela: Lícia dava sinais de que, mais tarde, caminharia para discussões nesse sentido. Mas nada disso aconteceu.
 
É bem verdade que o desenvolvimento foi quase perfeito. Lícia soube dosar com razoabilidade a complexidade os temas dos quais tratou. Em um horário utilizado para novelas água-com-açúcar, Sete Vidas soube manter o seu apelo comercial sem comprometer a qualidade textual presente na narrativa e na dramaturgia da autora. Tudo foi planejado e executado com certo cuidado, uma prática cada vez menos comum em tempos em que roteiristas acreditam que novelas precisam necessariamente replicar o ritmo dos seriados americanos. Mas o que veio depois, o que chamo de enlace, não apareceu (nem no desenvolvimento, nem na conclusão). A novela ficou manca, até meio piegas: Miguel, por uma espécie de chamado consanguíneo, tornou-se o pai de pessoas com as quais nunca havia convivido. Uma boçalidade em tempos em que o Direito Civil, por exemplo, luta com conceitos tão rasos de família.
 
Para completar, o final de Sete Vidas foi bastante irregular. Mal e porcamente, Lícia criou possibilidades para suas histórias. Nenhuma dessas possibilidades, porém, esteve justificada no contexto de sua narrativa. Como uma dramaturga iniciante, Lícia apenas criava curvas aleatórias em suas tramas: do dia para a noite, Felipe (Miguel Noher) precisava ir para Uganda e Luísa (Eline Porto) "achou" uma bolsa de estudos em Londres. Fatos que transcorreram de maneira nada crível. Não é assim que se escreve uma novela. Não é assim que escreve teatrinho de colégio. Os finais dos protagonistas, assim, desenvolveram-se, todos, de modo muito tacanho: surpreendeu a falta de habilidade de autora de estabelecer traços de empatia com a trama do trio principal, algo que poderia ter sido desenvolvido em uma cadeia causal mais cuidadosa: Júlia (Isabelle Drummond) e Felipe, pelo contrário, tiveram uma história abruptamente interrompida. Sem nenhuma estratégia de roteiro mais elaborada, Lícia apenas decidiu separar o casal em benefício de Pedro (Jayme Matarazzo). Nada, porém, parece ter justificado a repentina mudança de inclinação da mocinha. Restou, assim, o bom final de Miguel e Lígia, que de fato soou como o mais acertado. Entretanto, mesmo o enlace dos protagonistas maduros sofreu entraves desnecessários. O impulso de Ulisses que voltou a tomar conta de Miguel nos capítulos finais externou uma falta de criatividade.

Houve, ainda, os remanejamentos justificados por um excesso de pedantismo que, vale dizer, também sempre comprometeu e tirou um pouco da alma da novela. Como explicar, por exemplo, a decisão de Luís, personagem de Thiago Rodrigues, que, mesmo depois de meses de uma bela construção de argumento com sua terapeuta (Isabel, em uma bom retorno de Mariana Lima às novelas), teve que seguir sozinho? Isso depois de, mais uma vez, um elemento estranho ter sido incorporado ao roteiro sem muita causalidade: Isabel "achou" uma pós-graduação no exterior, algo que parece muito comum, pelo visto, no cotidiano da autora. E o que dizer da cura gay de Esther, uma mulher de sessenta anos mais do que resolvida? É bem verdade que bissexualidade é um fato em todas as idades. Mas também é verdade que Esther nunca havia demonstrado essa inclinação. Nada disso colou.
 
Sete Vidas, assim, terminou com um ar de novela interessante, mas com problemas contundentes. Lícia tem o talento de saber contar histórias de maneira bem razoável, inteligente, problematizada. Mas falta aquele plus que existe nos grandes autores, aquele plus que mistura cuidados técnicos com elementos de catarse. Do primeiro elemento, restam atropelamentos e fatos achados. Do segundo, sobram opções erradas em seus desfechos (algo também perceptível em A Vida da Gente). É justamente na hora de tomar decisões que Lícia se atrapalha. Talvez por tentativas pouco efetivas de surpreender.

De absolutamente positivo, cabe citar a direção e o elenco. Jayme Monjardim se recuperou da péssima impressão que seu núcleo deixou em Em Família. Malu Galli, por seu turno, foi o grande destaque entre os atores. Ainda que estivesse na trama mais clichê da novela (e desenvolvida do modo mais clichê possível, vale dizer), Malu conseguiu colocar para fora todo uma explosão que muitas vezes teve que ficar mais escondida em papéis menos dramáticas. Uma atriz gigante.


 
7,5/10

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Com direção arrasadora de Mauro Mendonça Filho, Verdades Secretas estreia como grande promessa

Nas chamadas, já se notava algo diferente. Verdades Secretas prometia ser uma novela com N maiúsculo, algo que não se vê há muito tempo no horário nobre. Depois da estreia, essa impressão se confirmou. E muito disso se deve à direção. Mauro Mendonça Filho, o Maurinho, vem comandando um dos maiores trabalhos em novela dos últimos anos. Com ousadia e uma pitada de vanguardismo, Mauro optou por dar um ar completamente heterodoxo à direção de Verdades Secretas. E acertou em cheio: em uma novela que trata de um tema ligado ao mundo da moda, por natureza mais relacionado a tendências do contemporâneo, Mauro nos brinda com um cenário que oscila entre a modernidade e a sofisticação. Para isso, abusa de uma fotografia taciturna (mas na medida) e do atrevimento em gerar efeitos especiais de ambientação. E a trilha sonora meio indie, vale mencionar, é excepcional. A abertura, coroada por uma música do grupo Massive Attack, é a melhor em muitos anos.
 
 
É claro que não dá para deixar de mencionar a evolução textual de Walcyr Carrasco. Pela primeira vez, o autor escapa da maioria dos seus jargões, clichês e didatismos. Os dois primeiros capítulos foram construídos sem muito estereótipos, algo que tradicionalmente atravessa os trabalhos de Carrasco. O argumento é ótimo e muito original: ainda que novelas já tenham tratado do tema anteriormente, o mundo da moda como lugar de marginalização nunca foi explorado com o devido aprofundamento. Ao menos de início, parece ser isto o que Walcyr pretende ao penetrar nas crueldades e vicissitudes do universo das modelos. Interesses, jogadas, prostituição, consumo de drogas, tudo vem sendo mostrado sem muito subterfúgios. Chama a atenção, também, a maneira acertada pela qual Walcyr vem abordando o ambiente adolescente. De maneira problematizada, Verdades Secretas enfoca a vida dos jovens com muito mais honestidade do que a péssima Malhação (mais péssima ainda em sua fase "Sonhos", vale ressaltar).
 
 
Se botar a mão no fogo por uma novela de Walcyr Carrasco ainda é tarefa arriscada, apostar em Verdades Secretas não parece uma insanidade. Ainda mais quando ele vem assessorado pela competente Maria Elisa Berredo e pelo cada vez mais notável Mauro Mendonça Filho. É uma grande promessa para 2015. Isso se a Globo não esvaziar a trama por motivos circunstanciais (como fez com Babilônia). Esperemos.

sábado, 23 de maio de 2015

Entre ajustes ruins e boas estreias, Sete Vidas se consolida como melhor novela do momento

A Rede Globo vem passando por um momento estendido de renovação. Isso, claro, corresponde a boas estreias, caso de I Love Paraisópolis e Amorteamo, mas também a ajustes realizados em tramas que, como o resto da programação, sofrem com a baixa no Ibope, caso de Babilônia.
 
 
I Love Paraisópolis estreou com o pé direito. Alcides Nogueira sempre escreveu com muita qualidade. Aliado a Mário Teixeira, Alcides conseguiu, na novela protagonizada por Bruna Marquezine, dar um passo além de sua competência textual: em I Love Paraisópolis, ele consegue falar diretamente com o público. Uma novela ágil, colorida, bem-escrita e concatenada com a realidade. Baseada no velho (mas interessantíssimo) abismo entre o Morumbi e Paraisópolis (tema de uma das fotos mais famosas do século XXI, a propósito), Alcides e Mário inseriram elementos grudentos que, no contexto das novelas das sete, funcionam com frequência: um romance baseado em uma diferença acentuada de classes, uma trupe de vilões de classe média-alta bonitos e sedutores (de onde também vem, é claro, o mocinho), uma direção com tintas fortes e iluminadas (e, em um retorno de Wolf Maya aos bons trabalhos, bastante acertada). Mas é justamente nestas marcações tão fortes que a novela apresenta as suas fragilidades: por vezes nada escapa da caricatura. O tom muito farsesco toma conta do classismo que fundamenta a novela. Como consequência, todo o resto é contaminado: consegue-se perceber o clima exagerado nas interpretações de Letícia Spiller, Caio Castro e Fabiúla Nascimento (alguém precisa avisá-la das diferenças entre os dialetos caipira e paulistano), todos rendidos a tipos que parecem saídos de uma esquete de gosto duvidoso. Apenas poréns.
 
 
Amorteamo, por sua vez, repete a linguagem que Luiz Fernando Carvalho inaugurou com Hoje em Dia de Maria. Entretanto, a série encabeçada por Cláudio Paiva recebe a não coincidente influência de Guel Arraes. Nessas tintas de Tim Burton brazuca-nordestino, Amorteamo vem entregando um produto de qualidade. Ainda que não haja nada de muito novo na proposta (mesmo que vendam o seriado como algo revolucionário), o texto é bem-amarrado, os atores estão acertados e, é óbvio, a direção dá um show. Flávia Lacerda tem tudo para fazer uma excelente carreira por trás das câmeras. Destaque para a excepcional trilha sonora, para a empolgante abertura (uma das melhores dos últimos anos),e para as interpretações de Letícia Sabatella e dos surpreendentes Johnny Massaro (pela pouca idade), Jackson Antunes (pela negligência da crítica em relação ao seu talento) e Marina Ruy Barbosa (jovem atriz que, em Amorteamo, consolida o seu processo de evolução).
 
 
Babilônia, por seu turno, vem passando por um processo inverso: perde qualidade em um ritmo alucinante. Não se sabe se por um atropelo de Ricardo Linhares, Gilberto Braga e João Ximenes Braga ou pelas intervenções de uma direção de dramaturgia que, não é segredo, é muito equivocada, Babilônia sofreu uma série de remendos que, em última instância, esvaziaram a sua essência. Criada para ser revolucionária, o folhetim passou por um processo de "caretização industrial". Alice (Sophie Charlotte) era uma das personagens mais promissoras. Assim como Angel, a protagonista de Verdades Secretas (futura novela de Walcyr Carrasco), a mocinha meio torta prometia causar furor. Mas a endireitaram. Alice se tornou mais uma mocinha insípida. Este foi só o começo de um esvaziamento completo de todo a estrutura da novela contestadora. Seguiram-se a isso as restrições aos casais gays de Babilônia (com a redução das cenas de Estela e Tereza, primeiro, e a simples heterossexualização de Carlos Alberto, que optou por uma paixão platônica pela chata Regina em vez de envolver-se com Ivan). Os remendos comprometeram o próprio argumento da novela: deixou de ser a ambição de três mulheres para se transformar em mais uma trama de vingança à la Egídio, Orestes e Clitemnestra. Enfim, o que mais o blog temia aconteceu: para adequar a novela ao público conservador, a direção da Globo conseguiu esvaziá-la de modo a afastar o telespectador mais progressista-liberal. Faltou inteligência. E a novela virou um Frankenstein de clichês sustentados por um vazio nada interessante.
 
 
Em meio a esse contexto, Sete Vidas se destaca com um produto primoroso. Lícia Manzo mostra o cuidado que tem com o seu texto: nada é jogado, colocado de forma fortuita. A perícia pela qual as palavras se manifestam em sua trama demonstra que Lícia, mais do que uma autora que encabeça colaboradores, é uma escritora que participa ativamente do processo de criação. A humanidade de seus personagens também impressiona: todos eles podem ser vistos a qualquer momento, da dona-de-casa reacionária de classe média alta ao jovem paladino que defende, ainda que com um telhado de vidro evidente, o bom-mocismo mais hipócrita. Lícia é sensível o suficiente para, em tempos em que críticos cobram cada vez mais agilidade, preparar uma trama que não atropela, que não se equivoca, que se desenvolve com paciência. Mais do que agilidade, Lícia expõe que, em qualquer obra de ficção, é preciso contar boas histórias. E Lícia faz isso com uma verossimilhança magistral. Sete Vidas é a melhor novela do momento.

sábado, 9 de maio de 2015

Embora muito piegas, Alto Astral cumpre o objetivo e entretém com trama bem contada

Alto Astral não entrará para a história. Alto Astral não foi a novela das novelas. Alto Astral causou vergonha alheia em alguns momentos. Mas Alto Astral, com toda essa vocação para a mediocridade, emplacou (e não me restrinjo à audiência, mas também à crítica). A grande questão é que Daniel Ortiz conseguiu ser muito eficiente em reproduzir a fórmula textual das novelas das sete: o pastelão, o romance e o didatismo. É bem verdade que o folhetim trouxe grandes marcas de inovação: de personagens emblemáticos como Samantha (Cláudia Raia) a cenas que encantaram pela engenhosidade, p. ex. a sequência em que Afeganistão (Gabriel Godoy) apresenta a namorada fantasma para a família. No entanto, a novela esteve no mais seguro dos solos na maior parte do tempo. E acertou justamente aí: cumpriu bem o papel de entreter de acordo com a fórmula mais tradicional de novela.
 
A direção de Jorge Fernando acompanhou a tendência da dramaturgia. E ninguém melhor que Jorge para dirigir comédias das sete. O tempo passa, mas Jorginho continua funcionando. Ainda que o chamem de repetitivo e batido, a verdade é que Jorginho inaugurou todo uma marca. Toda novela de Jorge Fernando é facilmente identificável. Isso, porém, é uma vantagem. O elenco também se mostrou muito acertado. Nomes consagrados como Christiane Torloni, Cláudia Raia e Elizabeth Savalla estiveram em perfeita harmonia com gratas revelações. Gabriel Godoy e Conrado Caputo estouraram em seus personagens. Performances negativas foram bem pontuais: Thiago Lacerda continua over e pouco articulado; Débora Nascimento precisa de mais naturalidade; Nathália Dill, apesar de talentosa, necessita mostrar mais recursos em personagens mais diversificados.
 
O grande contrapeso de Alto Astral esteve no excesso de pieguice. Não foram raros os momentos em que o drama se tornou pouco crível e até meio ridículo. A menina Bella, ainda que muito fofa, quase sempre entrava em sequências recheadas de situações para lá de esdrúxulas. Todo o papo de amor incondicional entre irmãos e de evolução espiritual (ainda mais em uma novela que nunca se preocupou em seguir uma cartilha muito ortodoxa de kardecismo) também constrangeu frequentemente. Seja como for, Alto Astral conquistou o seu objetivo: entreteve de maneira eficiente. Uma novela que não mudou a vida de ninguém, é verdade. Conseguiu, entretanto, marcar a história com tramas bastante adoráveis. Parabéns ao estreante Daniel Ortiz e, é claro, à já célebre Andrea Maltarolli, autora da sinopse que por uma infelicidade deixou-nos ainda muito jovem.
 
 
7/10



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Esforço por deixar trama mais conservadora deve afastar o público progressista de Babilônia

Às vezes a emenda sai pior do que o soneto. Há um problema claro em Babilônia, mas mais de forma do que de conteúdo: a trama lenta e pouco articulada afasta qualquer tipo de público. Esta é a alteração mais premente. Mas a novela vem passando mesmo por uma alteração de conteúdo: Alice deixou de ser candidata à prostituta e virou uma mocinha clássica, mudança que, apesar de feita de modo interessante (à la "Pretty Woman"), comprometeu boa parte da força do enredo. Agora, Carlos Alberto foi heterossexualizado, algo que pega bem mal em parte da audiência. Justamente na parte da audiência que gosta da novela. No fim das contas, o público cativo do folhetim, naturalmente mais progressista, pode desistir. No frigir dos ovos, pode não sobrar ninguém. E a atual direção de teledramaturgia, tão esforçada em entender o mercado, mostra mais uma vez que precisa estudar que algumas obras têm o seu nicho.

domingo, 3 de maio de 2015

Quem tem medo das bandeiras desfraldadas?

Sete Vidas é uma novela especial. Com uma qualidade textual incrível, Lícia Manzo inscreve seu nome na lista de grandes autores da nova geração. Babilônia, por sua vez, enfrenta problemas de audiência. Desde a primeira semana, Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga vêm sofrendo com o desinteresse generalizado do público.
 
Daí que a crítica, como de costume, apresenta as suas motivações para o antagonismo de resultados entre as duas tramas. A primeira, dizem, é eficiente na medida em que não levanta bandeiras e não causa polêmica. A segunda, por sua vez, sofreria por uma espécie de síndrome de politização generalizada do cotidiano. Bobagem completa.
 
Primeiro porque Sete Vidas não é boa por não levantar bandeiras. Pelo contrário, a novela levanta, sim, seus questionamentos, quase sempre direcionados a uma problematização que resvala nas relações sociais. Segundo porque Lícia Manzo é excepcionalmente cuidadosa com o seu texto. Raridade em dias de roteiristas imediatistas, Lícia transita muito bem entre a qualidade formal (um rebuscamento não hermético) e a material (a densidade de suas tramas e a forma pela qual elas se entrecruzam).
 
Terceiro porque Babilônia tem sua força justamente em seu caráter contestador. É por sua constante desconstrução de valores hipócritas que Babilônia cresce em avaliação crítica. E a maior preocupação de quem assiste a novela, a propósito, consiste num possível processo "apatização" do enredo, algo que deixaria o folhetim como todos os outros que o antecederam. Quarto, Babilônia não tem os seus defeitos em seu aspecto formal, mas no material: nas primeiras semanas, a trama correu de maneira preguiçosa. Faltou enredo e um desenvolvimento mais palpável de seu argumento. Agora, com a concentração da trama em sua sinopse, a novela parece ter retomado o rumo de um grande folhetim.
 
Por fim, também é uma falácia acreditar que Sete Vidas e Babilônia se encerram em um antagonismo completo. De início, considero as duas tramas excelentes, cada qual com a sua marca. Mas Sete Vidas não é perfeita: todos os personagens parecem muito articulados, muito civilizados, não há um elemento que apenas atire um prato na parede. Muito menos Babilônia é símbolo de absoluta imperfeição: é uma novela corajosa, instigante, com um potencial ainda muito grande. Resta esperar.

sábado, 11 de abril de 2015

Chapa Crítica: Com roteiro matador de Antonio Prata, Os Experientes estreia com o pé direito

Na noite anterior, a Rede Globo havia entregado uma péssima estreia: Chapa Quente, do gabaritado Cláudio Paiva, revelou-se uma comédia sem graça, batida, medíocre, estereotipada e atravessada por uma enfadonha crítica superficial do que seria um quadro sócio-econômico da Classe C. Um desastre absoluto e preconceituoso. No dia seguinte, porém, a emissora carioca se redimiu da melhor forma possível: Os Experientes, projeto com direção de Fernando Meirelles, não deixou margem para nenhuma crítica. Impecável do início ao fim, o primeiro episódio da série causou brilho nos olhos do telespectador. 

Muito do sucesso do primeiro capítulo deve-se ao apuro do roteiro de Antonio Prata. Como o pai, o famoso escritor Mário Prata, Antonio preocupou-se em descrever um retrato cotidiano amplamente significado. Em outras palavras, os acontecimentos relatados no debut de Os Experientes não foram apenas acontecimentos: entre olhares, diálogos e gestos, o roteirista aos poucos sinalizou histórias ocultas, preconceitos sociais, pequenos fundamentos que desvelaram não somente os perfis das personagens centrais, mas de todo o modo pelo qual a trama se desenvolveu. Tudo, assim, justificado, marcado, sublinhado em meio a uma teia muito bem desenhada e siginificada. Como o pai, Antonio também não deixou de lado o humor. Em Os Experientes, entretanto, o humor se revezou de maneira harmônica com um arco dramático não arbitrário. A oscilação entre comédia e tragédia, portanto, aliou-se muito bem à qualidade do cuidadoso roteiro de Prata, sempre ligado a perfis e atos motivados. Não só isso, serviu de base para a já mencionada dinâmica de constante significação e crítica. Debochando da tragédia, Os Experientes apresentou uma perene percepção analítica de determinados absurdos que atravessam a sociedade e a política, ontem e hoje. Um roteiro bem-escrito, crítico e debochado: como uma 'crônica ficcional', Prata fez um roteiro matador.

Aqui, cabe uma nota especial para os protagonistas: Beatriz Segall e João Côrtes. Os dois estavam esplêndidos, não menos que isso. É bem verdade que ambos os personagens eram muito carismáticos, mas seus intérpretes conseguiram com eficiência sublinhar as nuances de um roteiro que, embora muito esperto, exigiu bastante dos atores. A história de Prata cobrou transformações rápidas: do banal ao ápice, do esdrúxulo ao dramático. Também é bem verdade que não se esperava menos de Beatriz Segall, de longe um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira. Sua Iolanda foi simplesmente fantástica. Beatriz, melhor do que ninguém, soube dar vida a uma personagem que precisava, ao mesmo tempo, transparecer a dor e o desdém pelo futuro. Divina. Já João Côrtes, conhecido como garoto-propaganda de uma empresa de telefonia, demonstrou que é mais que um bom vendedor de planos para celular. Segurou bem um personagem difícil e até certo ponto diferente do que está acostumado a interpretar. O embate entre os dois foi, assim, fantástico.

Fernando Meirelles, como de costume, fez um trabalho indefectível. Cenografia taciturna, decadente, algo bem próximo de um ambiente condizente com a pinta de crônica que perpetuou a série. Do mesmo modo, a fotografia esteve bem medida, calculada de modo a valorizar o cenário e a adaptar-se ao modus operandi da televisão. A trilha sonora também emocionou. Utilizando todo o talento de Segall, Meirelles encerrou o capítulo com a ótima "Vapor Barato", um hino entoado por Gal Costa. Emocionante.

Se depender da excelente primeira impressão causada, Os Experientes tem tudo para se transformar na série do ano. O encerramento, aliás, coroou a boa aliança entre roteiro, atores e direção. João Cortês e Beatriz Segall em uma cena tensa, um confronto impactante que terminou em um ótimo plot twist. Plot twist, aliás, justificado, fundamentado, como todo o resto da história. Iolanda, ainda, deparou-se com todo um cenário de falência de instituições: da imprensa sensacionalista à polícia desumana e burocratizada. Para terminar, o esfacelamento gradual da imagem chorosa de Iolanda, a personagem que, mais do que uma "velha", era uma vida cheia de dor e desdém. Nem chapa branca, nem chapa quente: a chapa de Os Experientes é crítica. E é fantástica.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Os antagonismos: Da péssima Chapa Quente ao ótimo Tá No Ar.


Chapa Quente tinha tudo para ser uma boa aposta. Cláudio Paiva, criador da série e ex-coautor de A Grande Família, tem um bom currículo e mostrou um ótimo trabalho no seriado da Família Silva, principalmente depois de uns anos de amadurecimento textual. O elenco também é muito bom: além dos excelentes Ingrid Guimarães e Leandro Hassum, a produção traz para a TV Globo nomes como Renata Gaspar.
 
Mas a boa impressão terminou logo na primeira cena do seriado. A verdade é que a série é péssima. Primeiro porque é batida, clichê, um pastiche de tudo o que já foi feito desde Tapas e Beijos até as primeiras temporadas de A Grande Família. Com a desvantagem de ter um texto estereotipado, medíocre, bobo, cheio de preconceitos: e nisso há um segundo motivo para uma crítica não-condescendente. A tal classe C de Chapa Quente é distante da realidade e perpetuada por meia-dúzia de chavões conservadores. Nada foge do folclore de botequim: da caveira na bunda do tal Sargento Bigode (Lúcio Mauro Filho) ao bandidão vingativo que, ora, é negro, mal-encarado e truculento. As piadas também têm a sua função no desastre: previsíveis, infantis e pouco refletidas. Por fim, a própria direção escorrega: a começar pela abertura embalada por uma espécie de coroação de toda visão deturpada - e até recheada de ódio - sobre a classe emergente. Pobre São Gonçalo.
 
Se Chapa Quente é horrível, a segunda temporada de Tá No Ar é um primor de qualidade. Apesar de um pouco preso por vezes na sistemática batida de Casseta e Planeta em alguns momentos, o programa capitaneado por Marcelo Adnet tem sacadas sensacionais. Antenados com um humor mais crítico, os roteiristas de Tá No Ar procuram não se prender a velhas fórmulas. E estão cobertos de razão.
 
Esse desprendimento vai transformando o Tá No Ar em uma espécie de respiro na grade de programação. Piadas como a do militante esquerdista indignado com a Rede Globo e o Jardim Urgente, quadro que satiriza os péssimos programas policiais sensacionalistas, são de fato espertas e ferinas. O bom elenco também colabora com a efetividade dos quadros, um time que mescla nomes mais e menos industriais. Para completar, o próprio argumento do programa, apesar de copiar uma esquete do extinto Comédia MTV, é bastante adequado ao dinamismo do roteiro: Tá No Ar é exibido como se estivesse sujeito a um zapeamento randômico de canais. Perfeito.
 
Assim, as noites de quinta da Globo são encerradas com humorísticos bastante diferentes. Em um antagonismo, ir de Chapa Quente para Tá No Ar é como ir do inferno ao céu em pouco tempo. Resta saber se o público de Adnet e cia., naturalmente diferente do público de Chapa Quente, sobrevive aos minutos de martírio proporcionados pelo programa protagonizado por Ingrid Guimarães.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Da semana: a excelente reciclagem do Video Show e a rejeição à ótima Babilônia

Das novidades da semana, cabe destacar a excelente reciclagem do Video Show. Dinâmico, moderno e contemporâneo, o novo formato acertou em cheio ao incluir elementos de improvisação. Como no saudoso Furo MTV (à época apresentado por Dani Calabresa e Bento Ribeiro), Mônica Iozzi e Otaviano Costa cumprem muito bem o papel de âncoras descontraídos. Mônica, aliás, é uma grande aposta da emissora. Divertida, carismática, antenada com um humor desapegado de clichês e caricaturas. Em linha oposta ao velho e chato humor global que remete a figuras como Rodrigo Santana, Mônica Iozzi diverte sem precisar de batidos bordões. Assim como a entrada de Iozzi, o encerramento de Miguel Falabella foi um grande acerto. Já Cissa Guimarães continua funcionando e merece mais espaço. O quadro de Marcelo Serrado, porém, tem tudo para cansar e/ou ficar deslocado no contexto do programa.
 
 
Babilônia, por sua vez, vai tendo sua audiência cada vez mais corroída. A novela continua ácida, ferina, bem-escrita. É bem verdade que há um núcleo totalmente dispensável, caso do personagem de Gabriel Braga Nunes e todos os que o cercam. Também é verdade que Regina, a mocinha de Camila Pitanga, ainda é exigente demais. Mas nada que apague toda a coragem que o texto de Babilônia apresenta. Quebrando todos os estereótipos possíveis, jogando diálogos contestadores, mostrando sem negociação muitas mazelas brasileiras. Talvez seja isso que incomode tanto o telespectador brasileiro. O telespectador brasileiro, bem sabemos, além de carente de educação política, é um dos mais conservadores do mundo. Infelizmente, isso vem influindo nos rumos da novela. De um jeito ou de outro, Babilônia já tem lá o seu quê de emblemática. Uma novela que, assim como foi Os Gigantes, é mais vanguardista do que o recomendável.


terça-feira, 31 de março de 2015

Em crise de audiência, Rede Globo apresenta 3 excelentes folhetins

Já fazia algum tempo que a Rede Globo não exibia três excelentes folhetins ao mesmo tempo. A crise de audiência que assola a emissora, é verdade, é bastante evidente. Ainda assim, é inegável que as produções atuais da emissora carioca expõem uma qualidade conjuntural não muito comum na sua grade: sempre há alguma novela (às vezes todas) que costuma destoar. Desta vez, entretanto, a situação é diferente.
 
Sete Vidas retoma o excelente e maduro texto de Lícia Manzo. A autora vem tangenciando, como sempre, temas complexos e controversos com a naturalidade de quem escreve com inteligência e segurança. Enredos familiares contemporâneos, seu tema preferido não é de hoje, embalam uma dramaturgia profunda e sensível. Sete Vidas trata do cotidiano com certo olhar de análise e reflexão. Não deixa de lado, porém, o drama e a emoção. Licia é um Manoel Carlos com traços mais psicológicos. Um dos grandes nomes da nova geração de autores.
 
Babilônia, por sua vez, estreou em meio à desnecessária polêmica do beijo gay. A polêmica, em contrapartida, prova que o beijo gay é, ainda, necessário. Nessa necessária polemização desnecessária, o indefectível folhetim de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga ganhou os seus contornos. A novela resgata o melhor das tramas mais espertas de Gilberto Braga: a dinâmica das classes sociais, da desigualdade e dos micropoderes. Com duas astutas vilãs (vividas por atrizes excepcionais), um casal gay emblemático (vivido por atrizes tão excepcionais quanto) e um casal hétero que também promete causar (vivido por Gagliasso e Charlotte, dois ótimos atores), Babilônia se enreda de forma instigante. Mas nem tudo são flores: a insuportável mocinha pesa contra; o núcleo cômico improvisador, apesar de encarnado por atores interessantes, também não funciona. Assim, alguns ajustes na dramaturgia são fundamentais.
 
Alto Astral, por fim, é a novela das sete tradicional. Mas Daniel Ortiz vem provando que sabe reeditá-la de forma muito competente. O folhetim é bem amarrado e engraçado; uma eficaz opção de entretenimento. A novela, é preciso dizer, também vem sendo sustentada por suas ótimas revelações: Conrado Caputo e Gabriel Godoy são dois exemplos. E eles não estão sozinhos: o elenco tem peças em consolidação (Sérgio Guizé, Giovanna Lancelotti) e experientes (Elizabeth Savalla, Cláudia Raia) que ajudam a firmar Alto Astral como um sucesso. Um sucesso, aliás, que foge à regra da atual situação da emissora: Alto Astral vem apresentando bons índices de audiência.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Mal escrita e com direção over, Dez Mandamentos é um desperdício de dinheiro

Dinheiro é algo importante para sustentar qualquer produção de ficção. É assim no cinema, também é assim na TV. Mas não é tudo. O número de filmes ruins com orçamentos milionários é extenso. Blockbusters de qualidade contestável são produzidos todos os anos. No mundo das novelas, a Rede Globo também já produziu suas tralhas endinheiradas. Viver a Vida, de Manoel Carlos, é um bom exemplo de que o dinheiro nem sempre impulsiona uma história. A Padroeira, de Walcyr Carrasco, também passou longe do retorno ao investimento feito pela emissora na época.
 
 A Record, por sua vez, vem investindo bastante dinheiro em teledramaturgia nos últimos anos. A emissora paulistana conseguiu até mesmo emplacar folhetins com excelente recepção na crítica, casos de Escrava Isaura, de Tiago Santiago, e Vidas em Jogo, de Christianne Fridman (a melhor autora da casa, sem dúvidas). Os Dez Mandamentos é a última etapa de um processo de investimento que, apesar de seus altos e baixos, ao menos mostra um interesse genuíno da Record em continuar aplicando forças em sua teledramaturgia.
 
Mas Dez Mandamentos é, primeiro, mal escrita. À parte dos bons trabalhos (alguns melhores do que outros) feitos por Vivian de Oliveira em suas minisséries bíblicas, Os Dez Mandamentos não tem a mínima força textual. Vivian opta por uma narrativa ortodoxa, pouco inovadora e muito formal. Em suma, a dramaturgia de Vivian soa como teatro quadrado: não há contextualização, não há apuro, não há qualquer tipo de salto além do que já é exaustiva e hermeticamente contado pelas escrituras - nem no conteúdo, nem na forma. Se a opção de Vivian funciona de algum modo em textos de tiro curto, em uma novela isso parece limitado. Em suma, o texto de Vivian é ruim, ainda que haja o nítido esforço em deixar a trama dinâmica (o que funciona até certo ponto).
 
Em segundo lugar, a direção é over demais. O Egito brilha como uma escola de samba endinheirada do Rio de Janeiro. Não chega nem a ser kitsch: é apenas brega, excessiva, uma ostentação barata (apesar de cara). Os atores também reproduzem falas como se estivessem condicionados ao clima fake que atravessa a direção. A fotografia é cansativa; o figurino, batido; a trilha incidental, piegas. Nada parece escapar da lógica de fausto cafona que penetra nos mínimos detalhes. Longe do excesso contextualizado que enche os olhos (como em Caminho das Índias), o excesso de Os Dez Mandamentos é uma alegoria desnecessária. Nem mesmo os miseráveis egípcios são retratados de um modo razoável. Funcionava nas minisséries. Em novelas, porém, o brilho abundante não cola. No fim, a primeira novela bíblica da Record precisa ser mais que um teatro ruim do século XX: Os Dez Mandamentos precisa ser mais novela.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Babilônia tem o melhor primeiro capítulo dos últimos anos

Toda desconfiança que poderia cercar o primeiro capítulo de Babilônia caiu completamente por terra depois de um primeiro capítulo maravilhoso. Maravilhoso, não existe melhor palavra para resumir a dinâmica e a esperteza de roteiro que Gilberto Braga, João Ximenes Braga e Ricardo Linhares imprimiram a uma constelação de personagens que, já nas primeiras tomadas, revelaram seus potenciais. Por óbvio, não sobrou muito espaço para ninguém diante da força dos papéis de Glória Pires e Adriana Esteves, intérprete das arqui-inimigas (e, em paradoxo, amigas), Beatriz e Inês. Mesmo assim, todos que apareceram indiciaram sua importância em uma história muito bem amarrada.
 
A trama se desenhou do melhor modo possível neste excelente piloto. Beatriz, parte por conta de equívocos de uma personalidade muito calculista, vê-se sem saída e acaba matando Cristóvão (Val Perré), seu amante chantagista e motorista de seu futuro marido, o milionário Evandro Rangel (Cássio Gabus Mendes). Tudo isso em consonância com um ótimo senso holístico de dramaturgia, já que Cristóvão apenas recorre à chantagem diante da situação precária de sua esposa, Dora (Virginia Rosa), que precisa de dinheiro para furar a fila de um transplante de coração. Tangenciando a situação, conhecemos Inês, a ambiciosa amiga de infância da vilã (e obcecada por ela), que ciente do caso de Beatriz com o motorista, também resolve chantageá-la. O equívoco de Beatriz está em concluir, depois de flagrar um encontro fortuito entre Cristóvão e Inês, que os dois estavam mancomunados. Seja como for, uma breve descrição da história revela o principal: nada é jogado, inexplicável, sem causa no próprio roteiro. As ações são sempre motivadas e pertencem a uma história desenvolvida de forma inteligente. Beatriz não mata por matar. Cristóvão e Inês não chantageiam por chantagear. Os personagens são psicologicamente ricos e tem suas condutas, ao menos no que diz respeito a um bom roteiro, justificadas. Excepcional.
 
Glória Pires e Adriana Esteves, vale mencionar, estiveram magníficas. Glória volta com a mesma força de personagens como as gêmeas de Mulheres Areia ou a inesquecível Maria de Fátima, de Vale Tudo. Adriana, que em anos mais recentes explodiu como Caminha, encarna uma mulher mais humana que a sua antológica vilã de Avenida Brasil, mas não menos forte. Inês é dura, amarga, implacável. Fechando o trio de protagonistas, Camila Pitanga segurou bem o papel de ser o contraponto ético dessa pirâmide viciada. Ainda assim, é muito provável que Regina, apesar de parecer também a melhor mocinha dos últimos tempos, acabe de lado em meio a tantos personagens controversos. Fernanda Montenegro e Nathália Timberg foram um destaque à parte. Interpretando, respectivamente, o casal Tereza e Estela, as duas deram uma veracidade impressionante às suas histórias (tratando-se de atrizes desse gabarito, ninguém esperava outra coisa). Chamou atenção a pequena revolução e a coragem de Dennis Carvalho, diretor, que foi além de um mero selinho gay: o beijo das duas foi longo, vivo, demorado. Uma cena para entrar na história. E não só por refletir a velha problemática do cotidiano de casais homossexuais: aqui, a vida afetiva dos idosos entra em discussão em um país que distribui seu moralismo a tudo e a todos.
 
Dennis Carvalho, a propósito, emenda mais um grande trabalho. Claro que com a ajuda do excelente Vinicius Coimbra (e de toda a ótima equipe de diretores que os acompanha). O único erro, mesmo que mínimo, esteve na trilha incidental das cenas de Paris, um violino ortodoxo que tocou em todas as cenas que usaram a cidade. Como quer que seja, Babilônia resgata um espírito que vem perdido desde Amor à Vida. É bem verdade que, se Walcyr Carrasco é um dramaturgo muito pior que o trio que encabeça os créditos de Babilônia, sua última novela conseguiu repercutir de uma maneira que não se viu em suas sucessoras. Talvez pela coragem de Carrasco em questões morais. Coragem, aliás, também perceptível neste, mais uma vez repito, maravilhoso início de Babilônia. O blog torce para que a qualidade se mantenha.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O Império dos Horrores

O fantasma do Comendador coroou uma sequência de despropósitos que se seguiram às ótimas primeiras semanas de Império. Começando como uma saga épica digna dos melhores momentos de Aguinaldo Silva, a novela apresentou, de início, tipos com grande potencial: caso de Xana (Ailton Graça), Maria Marta (Lília Cabral), Cora (Marjorie Estiano/Drica Moraes), o próprio Comendador (Alexandre Nero), entre outros, uma constelação de arquétipos muito bem projetados pelo dramaturgo. Mas nem tudo é feito de protótipos: o desenvolvimento de Império se perdeu completamente em uma ânsia por genialidade que o autor parece ter perdido desde Senhora do Destino.
 
A começar pelos próprios personagens. O comendador, vá lá, manteve o seu apelo, mas ainda assim se sustentou em volta de uma mística supraficcional: o anti-herói controverso foi o maior acerto do folhetim. Entretanto, José Alfredo esteve várias vezes envolvido nas viagens inverossímeis de Silva, situações que, sendo condescendente, comprometeram bastante a qualidade da composição. Cora, outra grande promessa, perdeu-se em uma caricatura infeliz, sendo ainda muito prejudicada pelo triste e necessário afastamento de Drica Moraes. Maria Marta tornou-se uma dondoca com momentos insuportáveis, e é preciso dizer que o papel apenas não foi pelo ralo por conta dos muitos momentos de brilhantismo de Lília Cabral: apesar de um pouco maneirista em Império, Lília é uma das melhores atrizes que temos. Xana foi mais além: era uma transexual que gostava de homens, mas a certa altura passou a dizer que não. Ainda virou escada de Naná, a coadjuvante carismática de Viviane Araújo. Desvirtuou-se por completo. Enfim, quatro exemplos de um conjunto de personagens perdidos em meio ao desenvolvimento precário.
 
E toda essa descaracterização de personagens deve-se, é claro, justamente ao péssimo desenvolvimento. Se a trama tinha lá o seu caráter de realismo épico, perdeu-se em sucessões de acontecimentos inverossímeis que logo transformaram a novela em algo como um non-sense assumidamente ruim. Tudo podia acontecer, desde Drica Moraes substituída por Marjorie Estiano até alguém ficar rico da noite para o dia pelos motivos mais loucos possíveis. O tom de absurdo dado a Império beirou a fantasia de Glória Perez. O folhetim de Silva, porém, sustentava-se em uma espécie de pretensão um pouco cult, um objetivo que, nem vale ressaltar, não esteve nem perto de ser alcançado. Mas se a certa altura as cores absurdas passaram a soar como intencionais, os furos enormes de roteiro não pareciam ser. Erros crassos foram se naturalizando em buracos cada vez maiores na sequência causal de fatos. Um exemplo: Silviano, o mordomo culpado (personagem de Othon Bastos, mais uma pretensão de Aguinaldo Silva), chegou a vigiar os passos de seu inimigo, Maurílio (Carmo Dalla Vecchia), em boa parte da novela. Capítulos depois, o autor parece ter mudado de ideia: Maurílio era, na verdade, seu grande aliado (e filho) em sua investida contra o Império do Comendador. De empregado fiel, Silviano se tornou o grande vilão de uma novela que, por uma incompetência magistral de Aguinaldo Silva, ficou carente de um bom antagonista (espaço mais tarde preenchido pelo cliché trágico de Caio Blat). Isso tudo sem a mínima explicação plausível para os fatos anteriores: a dedicação do mordomo à casa de Maria Marta ou as cenas em que, mesmo sozinhos, Silviano e Maurílio se confrontaram de modo seco.
 
Só um exemplo de uma colcha de retalhos costurada mal e porcamente. Nisso, o que poderia ter sido uma grande empreitada foi sacrificada pelo pior dos destinos. Talvez o exemplo mais emblemático desta triste novela tenha sido Cora: uma promessa que virou caricatura. Drica Moraes, por uma infelicidade, teve que se afastar. Mas a solução dada por Aguinaldo Silva à personagem foi ainda pior do que o soneto: transformá-la em Marjorie Estiano, sua intérprete da primeira fase. Depois a matou, como se estivesse lidando com uma cobaia que se revelou um monstrinho. A cobaia que se revelou um monstrinho: assim foi Império, foi Fina Estampa, foi Duas Caras, exemplos que vão se multiplicando no cada vez mais controverso currículo de Aguinaldo Silva.


Avaliação: RUIM.
 
 
Nota de rodapé 1: Por que o trono do Império coube a João Lucas (o péssimo Daniel Rocha) e não à primogênita Cristina (Leandra Leal, excelente no último capítulo)? Machismo? Claro que não, deve ter sido só paranoia.
 
Nota de rodapé 2: Aqui fica uma informação de utilidade pública. Homossexuais não precisam se casar com uma mulher para adotar uma criança. Legalmente qualquer pessoa com capacidade civil e com boas condições materiais pode fazê-lo. Solteira ou casada com homem ou mulher, independentemente da relação ser homo ou heterossexual

Nota de rodapé 3: Se Aguinaldo Silva errou em excesso, o mesmo não se pode dizer da direção de Rogério Gomes. Um trabalho impecável de um diretor que, por infelicidade, mais uma vez foi encaixado em uma trama ruim. Resta torcer para que Papinha, nos próximos anos, engate uma parceria tão imbatível quanto João Emanuel Carneiro e Amora Mautner ou Gilberto Braga e Dennis Carvalho.


Que venha Babilônia...

segunda-feira, 9 de março de 2015

Com trama antenada a questões contemporâneas, Sete Vidas é a evolução do melhor do estilo manequiano

Muito se fala que os autores mais antigos simplesmente não conseguem se adequar aos tempos atuais. Volta e meia tratam de temas delicados com a sensibilidade de um elefante. Reflexo de diagnósticos feitos com cabeças geradas tendo em vista o público da década de 90. Aguinaldo Silva é um exemplo clássico mais clássico desses anacronismos. Nesse sentido, os novos autores surgem como ótima alternativa. À exceção dos vanguardistas Gilberto Braga e Maria Adelaide Amaral (que têm em seus times os mais contemporâneos Vincent Villari e João Ximenes Braga), a velha geração, em maior ou menor grau, volta e meia padece do problema. E é nesse contexto que surgem nomes como Lícia Manzo, autora talentosa que, revisitando o estilo quotidiano de Manoel Carlos, traz uma assinatura quase sempre sensata, razoável e dialógica em relação aos novos anos.
 
 
Sete Vidas segue o estilo consagrado de A Vida da Gente. Não por acaso a palavra vida se repete. Mais uma vez, o tom é o dia-dia atravessado por problemas das famílias atuais. Com acerto, Lícia escolheu uma problemática bioética para conduzir o seu folhetim. Em uma novela marcada pelo prosaico, ter um tema polêmico como pano de fundo é uma necessidade. O grande problema das últimas novelas de Manoel Carlos, a propósito, foi a falta desse elemento que serve como mote. Em Sete Vidas, o mote é forte, incômodo e sagaz. Inova no argumento e tem tudo para conduzir a novela a grandes encontros e desencontros. Desse modo, ainda que apresente uma dramaturgia bastante cuidadosa, Sete Vidas prende a atenção do início ao fim. Sem dúvida alguma, Lícia Manzo é também uma autora corajosa: a novela perpassa por tabus que seriam impensáveis no horário das 18 horas há alguns anos. Reprodução artificial já havia causado um estrondo muito significativo em Barriga de Aluguel. Em Sete Vidas, ela vem acompanhada por questões tão sensíveis quanto: homossexualidade e um incesto platônico, por exemplo. E ninguém melhor que Lícia para escrever a respeito. Sua abordagem costuma ser inteligente e multifacetada.
 
 
À parte do péssimo trabalho em Em Família, Jayme Monjardim parece buscar a redenção. Sete Vidas dá espetáculo em fotografia, trilha sonora, direção de arte, entre outros aspectos técnicos fulcrais. O primeiro capítulo, a exemplo do excelente desempenho em A Vida da Gente, foi perfeito. Da mesma forma, o elenco é bastante competente. Já na abertura é possível ver nomes como Mariana Lima, Gisele Fróes, Ghilherme Lobo, Jesuíta Barbosa e Maria Eduarda de Carvalho. Excelentes atores que nem sempre entram nas panelas mais badaladas da televisão. O quarteto principal também agrada, principalmente por conta do retorno da sempre magnífica Débora Bloch. As expectativas são as melhores.

sábado, 7 de março de 2015

Mesmo terminando a solavancos, Boogie Oogie deixa horário com saldo positivo

É bem verdade que Boogie Oogie, novela que marcou a estreia de Ruy Vilhena na Rede Globo, terminou de maneira meio atrapalhada e excessivamente centrada no famigerado segredo de Carlota. A trama da megera monopolizou de tal modo que caiu em uma espécie de ritmo circular e truncado. No fim das contas, o maçante segredo de Carlota, além de pouco impactante, encerrou-se atravessado por alguns fatos mal explicados. A cena final, em que a antagonista vai em busca de parte do tesouro que havia escondido no túmulo de Ivan, foi ao mesmo tempo interessante e obscura. Interessante porque Carlota, de longe o grande personagem da trama, merecia um fim digno de nota. Mas também obscura, visto que a forma como aquela parte do tesouro foi parar em tal local poderia ter sido mais explorada.
 
 
Ambientes, figurinos e cenários também foram um problema. O blog comentou sobre isso há alguns meses. Se a história prendeu na maior parte do tempo, o trabalho de arte pareceu pouco comprometido com a pesquisa. Outrossim, quase nada foi mencionado a respeito do conturbado cenário sócio-político da época. Em uma novela da década de 70, o contexto do país é inafastável e deixar de abordá-lo é um problema gritante.
 
 
Em que pese tudo isso, Boogie Oogie termina como uma boa novela. A história quase sempre entreteve. Ruy Vilhena, a exemplo de autores de seriado, recheou a maioria dos capítulos com pequenos plot twists, técnica interessante em novelas contemporâneas. Um episódio sempre reservava sutis coincidências que conduziam a grandes reviravoltas. Ótima estratégia. Boogie Oogie também foi a novela das grandes atrizes. Nomes como Joana Fomm, Betty Faria e Giulia Gam retornaram ao vídeo em grande estilo. Alessandra Negrini, por sua vez, fez de sua Suzana a mais carismática das figuras. Fato que rendeu um final feliz ao lado do mau caráter e redimido Fernando.

 
No frigir dos ovos, Boogie Oogie usou a década de 70 como elemento meramente decorativo. Ainda assim, revisitar os dancin' days, as pantalonas e os telefones analógicos foi um grande prazer.



Parecer do blog: BOA.

quinta-feira, 5 de março de 2015

O Rei do Gado: quando a audiência acompanha a qualidade

Um dos grandes mitos da nova geração de noveleiros inclui o pressuposto de que novelas menos ágeis, com o roteiro mais trabalhado e uma fotografia menos industrial dificilmente caem no gosto popular nos dias de hoje. O sucesso da reprise de O Rei do Gado, obra-prima escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, desmente a tese. Superando com frequência a audiência de Boogie Oogie e Malhação, o folhetim de Barbosa é conhecido por privilegiar ao extremo a qualidade de execução em detrimento das batidas fórmulas que "especialistas" como Sílvio de Abreu (que agora é o grande manda-chuva da teledramaturgia global) vêm ajudando a consagrar.
 
A escrita de Benedito não é imediatista. Antes de um seriado, O Rei do Gado mais parece um clássico de matriz europeia. As tramas são entrelaçadas com cuidado, com atenção a possíveis buracos na cadeia causal e muito engajadas ao contexto social: o drama da desigualdade de distribuição de terras, a leniência do Congresso Nacional ou a onda imigratória do século XX que faz parte da raiz da cultura brasileira. A direção, do mesmo modo, não se preocupa com uma atmosfera mais industrial (algo consagrado nos últimos anos pelos ótimos trabalhos do núcleo de Ricardo Waddington). Luiz Fernando Carvalho, desde a primeira fase, apresenta a preocupação de dar sentido à sua direção, algo que envolve mínimos detalhes: a luz alaranjada da primeira fase, a escalação de atores e atrizes com estereótipos parecidos, o trabalho envolvendo planos e sequências pouco ortodoxos ainda hoje.
 
Assim, o sucesso de O Rei do Gado é muito mais do que o sucesso de um novelão clássico. Não há nada de clássico, na verdade, na sua estrutura dramatúrgica ou técnica: não há mocinhos ou vilões, não existe núcleo cômico, não há uma trilha que segue os hits do momento. O que há em O Rei do Gado que explica o seu sucesso é justamente o que faz a novela fugir do padrão tradicional. Assim como Renascer, a novela protagonizada por um caricato Antonio Fagundes se notabiliza por seu vanguardismo. E é por conta dessas peças que a audiência prega que devemos sempre desconfiar das fórmulas que moldam novelas em estruturas ideais, em standards que enjaulam autores em modelos recomendáveis.