segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Em tempos de chuva de spoilers, direção de Boogie Oogie segura ''o segredo do corvo'' com eficiência

É natural que Boogie Oogie não tenha a repercussão de uma novela das nove. Ainda assim, guardar um segredo chave de um folhetim é, nos tempos em que a informação circula na velocidade de um clique, tarefa muito difícil. Nada que a competente direção de Gustavo Fernandez e Ricardo Waddington não consiga fazer: o segredo a respeito do personagem "Corvo", o grande antagonista da reta final de Boogie Oogie, movimentou a trama; e até o momento da revelação, não se conhecia o rosto de seu intérprete. Nem por spoilers.

E Ruy Vilhena, mais uma vez, surpreendeu de maneira positiva: deixou Corvo a cargo de uma mulher, a veterana Pepita Rodriguez. O nome "Corvo", por conta de categorias culturais, em geral invoca a figura de um homem. Em se tratando de um papel marcado pelo comando e pela simbologia de uma ave masculina, o telespectador mais conservador acaba tecendo esta pré-imagem. Querendo brincar com os nossos próprios preconceitos, Ruy deu ao seu poderoso chefão uma figura frágil e feminina. Rui Vilhena causou espanto, assim, do melhor modo: derrubando categorias predeterminadas, algo que deve ser essencial em qualquer obra que pretenda marcar minimamente.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Em Alto Astral, Sérgio Guizé é uma ótima surpresa

A interpretação do cinema costuma ser diferente na televisão. O cinema tem a execução mais dinâmica, crua, realista. Ao mesmo tempo, dá ao ator mais tempo de preparação e estudo de cena. A novela, pelo contrário, tem um cunho mais lento. Já o trabalho do ator, também em contrapartida ao cinema, deve ser mais industrial, de trato imediato, com menos tempo de amadurecimento. 

Por conta dessas diferenças, por vezes o ator de cinema não se adapta bem ao ritmo da televisão. Ao menos nos primeiros trabalhos, um bom ator de cinema pode parecer perdido ou pouco à vontade. Não é o caso, porém, de Sérgio Guizé. Revelação em Saramandaia, Guizé se adaptou muito bem ao mundo da TV. Como Caíque, protagonista de Alto Astral, o ator se transformou na grande atração da novela. Puxa o enredo e concentra as atenções sempre que aparece.

Parte desse sucesso vem de uma característica mais do que óbvia: Guizé é um ótimo ator. Mas o que prepondera mesmo na boa recepção do personagem é o alto grau de carisma de seu intérprete. Algo raro em mocinhos e mocinhas, poucos atores têm a capacidade de conquistar o público na pele de heróis clássicos. Guizé, ao contrário de perspectivas, parece muito confortável na empreitada. Ofusca com facilidade, diga-se de passagem, Thiago Lacerda, ator que interpreta o outro pólo da história, o vilão Marcos. Em um mercado escasso de galãs, Guizé é uma ótima surpresa.