domingo, 27 de setembro de 2015

Verdades Secretas termina como novela do ano

Um elenco afiado, uma direção espetacular e uma história forte: essa combinação, convenhamos, é a receita do sucesso. Não foi diferente com Verdades Secretas, novela de Walcyr Carrasco com direção de Mauro Mendonça Filho.
 
A começar pelo elenco. Apesar de um pouco verde, a preparação de Camila Queiroz, a protagonista Angel, foi muito bem feita. A inexperiência da atriz não comprometeu em momento algum. Pelo contrário, a moça chegou a ter excelentes sequências e, com uma boa assessoria, pode alçar voos maiores no terreno da teledramaturgia. Rodrigo Lombardi, que começara um pouco caricato, soube dar charme e virilidade a um personagem que, pelo seu caráter amoral, foi um dos mais interessantes da novela. Marieta Severo, por sua vez, retornou às novelas do melhor modo possível. Grande atriz que é, ela soube dominar o seu núcleo com maestria. Em nada lembrou a doce e afável Dona Nenê, papel que interpretou por cerca de dez anos. Mas o grande destaque, vale dizer, foi Grazi Massafera. Desde o início da carreira, a atriz sofreu com a desconfiança e o preconceito. Aproveitou a oportunidade e fez de Larissa, sua personagem, um dos grandes elementos de empatia da obra.
 
A dramaturgia de Walcyr Carrasco, a propósito, também encantou. Como não se via desde Xica da Silva, Walcyr nos trouxe um argumento original e audacioso. Walcyr nos lembrou que sabe, sim, fazer mais do que comédias bobas pasteurizadas. Envolveu o público nos meandros de uma história interessante, instigante e corajosa. Claro que o horário das 23 horas favoreceu o seu ímpeto: há um limite de tolerância do público conservador em relação ao horário, algo que não vem acontecendo, por exemplo, nas novelas das 21 horas. Ainda bem. Ainda assim, Walcyr continua pecando (e com alguma frequência) quando começa a banalizar excessivamente o seu texto. Por cansaço ou pelo ritmo industrial da novela, Walcyr insiste, talvez como uma forma de preencher espaços, em enredos fáceis permeados por certos estereótipos de qualidade duvidosa: caso, por exemplo, do romance entre Visky, o ex-gay afetado, e Lourdeca, a gorda com baixa autoestima. Apenas um porém.
 
Mas o maior destaque de Verdades Secretas tem nome e sobrenome: Mauro Mendonça Filho. Um bom diretor sabe nos convencer de qualquer coisa. E Maurinho lidou, com uma maestria ímpar, com uma complexidade de temas que, nas mãos de um diretor inexperiente, poderia se tornar confusa e mal-executada. Mauro fez tudo muito bem - dos aspectos de edição mais técnicos, passando pela trilha sonora colocada, até a condução de um corpo de atores não muito experiente - e foi ainda mais além: não foram raras as oportunidades em que inovou de uma maneira que jamais havia sido reproduzida na TV. Escreveu a novela junto com o autor. Soube usar, por exemplo, efeitos especiais que davam um sentido psicológico à história. Muito se fala de Amora Mautner, mas é Mauro Mendonça Filho que, sem dúvida, é o grande candidato a ser o nome desta geração diretores.
 
Seja como for, Verdades Secretas nos instigou do início ao fim. E muito por causa de um argumento contundente, elemento que vem faltando, por exemplo, nas novelas das nove mais recentes. Um grande trabalho.


9/10

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Bate-Bola: Novelas

Além do Tempo: Por mais piegas que Elizabeth Jihn seja, é preciso reconhecer que Além do Tempo tem um argumento muito forte. Apesar de clichê, os desdobramentos de um romance destruído por preconceitos de classe são muito folhetinescos. Além disso, a essa altura já é possível afirmar que a autora soube conduzir a novela de um modo muito esperto. As tramas paralelas têm força e nada parece fortuito no mundo que Jihn desenhou. Ainda há a mudança de fase da novela, prevista para ir ao ar nos próximos meses. Uma manobra arriscada que, se feita de maneira condizente e justificável, pode selar Além do Tempo como grande obra. Até aqui, pelo menos, o saldo é positivo (apesar da afetação exagerada de Paolla Oliveira).
 
 
I Love Paraisópolis: O problema, aqui, é a caricatura de mau gosto. A favela de I Love Paraisópolis é de plástico, os seus personagens têm a profundidade de um pires. À parte disso, a novela cumpre bem o seu papel de entreter. Há, sim, partes bastante divertidas. Na maioria das vezes, o humor do folhetim das sete é baseado em um ritmo de esquete básico e sem muita criatividade. Clichê que funciona, entretanto, por causa do bom jogo de cintura dos autores. Os personagens principais, contudo, cansaram. O excesso de exposição a que foram submetidos transformaram os mocinhos numa espécie de doce com açúcar demais. Também existe um heroísmo exacerbado dispensável e pouco crível, principalmente em Benjamin (Maurício Destri). Pesa contra, outrossim, a interpretação caricatural e ruim de Caio Castro.
 
 
A Regra do Jogo: Elogiada nas redes sociais, a novela das nove tem um argumento confuso. O "vilão dos direitos humanos" mostra que João Emanuel Carneiro se atropela na necessidade de ser politicamente incorreto. Em primeiro lugar, existe uma falha de petição em sua tentativa de destruir o maniqueísmo do folhetim: se um personagem é mau fingindo ser bom, ele continua maniqueísta. Um personagem complexo é bom e mau, e não bom ou mau, ainda que ele finja. Caso contrário, segue a lógica da novela clássica e, ao menos para um telespectador mais atento, o personagem "dúbio" não transmite a menor empatia. Um erro clássico que boa parte dos autores já cometeram (como a Clara de Passione ou o Ferraço de Duas Caras). Em segundo lugar, o argumento é estranho e chega a ser um pouco tacanho. Uma "sociedade secreta de contraventores" foi jogada para o telespectador sem muita justificativa. Algo que, por ser alheio à realidade à vista da maioria das pessoas, deveria ser minimamente contextualizado. A novela tem sua força no roteiro, esperto e dinâmico, ainda que, como é costume nas obras do autor, certos elementos da cadeia causal de acontecimentos apresentem buracos. Uma nota negativa para Giovanna Antonelli, observação surpreendente diante da qualidade da atriz. Sua interpretação anfetaminada beira o over. Nada que não possa ser corrigido. Assim como a novela, é claro, que tem, sim, muito potencial em seu desenvolvimento.
 
 
Verdades Secretas: A trama de Walcyr Carrasco já começou a desdobrar-se por caminhos desnecessários. Assim como em Amor à Vida, a sua ânsia por polêmica turba a qualidade de sua dramaturgia, característica patente em suas tramas paralelas. Ainda assim, Verdades Secretas ainda é a melhor novela no ar. A trama principal, mesmo que volta e meia descambe para certos excessos, continua se desenvolvendo bem e instigando o telespectador. A direção de Mauro Mendonça Filho é o grande diferencial. Um profissional de extrema excelência.